Comissão designada pelo Dr.Pietro Novellino para elaboração de um documento em nome da ACAMERJ sobre EBOLA, construído pelo Dr. José Rodrigues Coura.
24/10/2014 - 00:00:00
Excelentíssimo Presidente
Prof. Dr. Alcir Vicente Visela Chacar
Durante Sessão Ordinária da Academia Nacional de Medicina realizada no dia 7 de agosto de 2014, foi discutido pelo Plenário o problema do Ebola. Nessa data designei uma Comissão composta pelos Acadêmicos José Rodrigues Coura, José Carlos do Valle, Gerson Canedo de Magalhães e Celso Ramos Filho para elaborar em nome da Academia um documento sobre o tema, o qual tomo a liberdade de dar ciência a Vossa Excelência.
Atenciosamente
Pietro Novellino
Presidente
ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA
A epidemia atual de Ebola acometendo o oeste da África preocupa o mundo pelo seu grau de transmissão pelas secreções corporais (saliva, suor, urina, fezes e sémen) e elevada mortalidade. Ao contrário do dengue e da malária não é transmitida por mosquito. O período de incubação do vírus Ebola-Zaire ? principal responsável pela doença ? é de dois a 21 dias, e só passa a ser contagioso quando iniciam-se os sintomas ? febre, cefaleia, vômitos, dores musculares e hemorragias. Os países mais afetados são Guiné, Libéria, Serra Leoa, Nigéria, com alguns casos notificados no Senegal. Os números registrados até o momento, e certamente subnotificados, dão conta de 8.300 infectados e 4.000 mortos, levando a região ao caos pela falta de condições para atender a população, principalmente Libéria e Serra Leoa.
A Organização Mundial da Saúde considera a situação fora de controle e a expansão da doença na região não tem previsão de ser contida pelos próximos meses. Acresce que a precária estrutura de saúde nesses locais está dificultando o tratamento de outras doenças, acarretando como efeito colateral, o aumento de mortes por essas afecções.
Outro agravante é para a economia da região que beira ao colapso. Em reunião do Banco Mundial, na quinta-feira (9/10/14), o diretor do CDC (Centro de Controle de Doenças) dos EUA, Thomas Frieden, declarou que nos seus 30 anos na saúde pública a atual epidemia de ebola só tem como equiparável a AIDS. Na mesma reunião, o presidente do Banco Mundial, Jim Kim, disse que a comunidade internacional "falhou miseravelmente? ao lidar com a doença. Solicitou que os países ocidentais colaborem com US$ 20 bilhões. Enquanto inúmeros países se mobilizaram no combate ao Ebola na África (EUA, Reino Unido, China, Alemanha, Índia Austrália, Venezuela, Namíbia, e outros) com aportes expressivos, o Brasil foi criticado pela ajuda de somente US$ 402 mil.
A doença, como estava previsto, saiu do continente africano. Alguns estrangeiros envolvidos no atendimento dos doentes foram removidos para seus países de origem, como americanos, ingleses, espanhóis, alemães, e receberam o melhor tratamento possível. Na Espanha, acaba de ocorrer o primeiro caso de contaminação fora da África, de uma enfermeira por um missionário doente removido daquele continente. Nos EUA, a população entrou em pânico devido a um liberiano infectado ter passado com tranquilidade no aeroporto de Atlanta. Dias após, com febre, foi atendido em um hospital e liberado para casa, retornando dois dias após com a doença. Este doente faleceu na última sexta-feira (10/10). Pelo menos 100 pessoas estão sob vigilância por terem entrado em contato com ele. O segundo caso americano acaba de ser confirmado de uma enfermeira que cuidava dele. Um britânico com sintomas de ebola morreu na quinta-feira (9/10) na Macedônia. O hotel em que estava hospedado foi isolado com hóspedes e funcionários no seu interior. No Brasil, um suspeito de ebola vindo da Guiné foi atendido em Cascavel, no Paraná. Ao que tudo indica, teve a sua remoção para a Fundação Oswaldo Cruz (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas), no Rio de Janeiro, seguindo os procedimentos recomendáveis.
O Ministério da Saúde havia divulgado anteriormente que todas as providências foram tomadas para a vigilância da entrada no país daqueles oriundos dos países com a doença. Entretanto, isto não ocorreu.
Provavelmente o controle nos aeroportos e portos de navegação seja mais factível de vigilância. Contudo, o grande risco para o Brasil está nos acessos por terra. No sul, africanos de diferentes países ? inclusive aqueles com epidemia de ebola ? continuam chegando sem o menor controle. Em Caxias do Sul existe uma associação específica destinada ao acolhimento social e que providencia empregos para esses imigrantes. Mais grave ainda é a entrada dos oriundos do oeste da África, principalmente do Senegal e Nigéria (poucos de Serra Leoa), através de rota por avião Dakar-Madri-Equador, que entram neste país sem necessidade de visto. Segundo a Polícia Federal brasileira, os imigrantes mais pobres são cooptados por "coiotes?, que lhes acenam com possibilidade de emprego no Brasil (Acre). Utilizando táxis viajam até o Peru ou a Bolívia e, daí, à noite, chegam em Rio Branco, sem serem importunados. Acampam no centro da cidade, criando grande problema para o estado. Isto já foi denunciado e as providências efetivas não foram tomadas. É a tragédia anunciada.
A doença ingressando na Amazônia, certamente, será de difícil controle. Urge das autoridades providências em todos os sentidos: dos Ministérios da Saúde, Justiça ? intensificando a vigilância por terra nas fronteiras durante as 24 horas ?, Relações Exteriores ? maior rigor no controle de vistos e emissão de passaporte daqueles oriundos das regiões mais acometidas ?, e outros mais que, a juízo do Poder Executivo, possam agir de forma integrada para conter esta temível infecção que, até o momento, não tem tratamento efetivo e de alta letalidade. Essas medidas, certamente onerosas, deveriam, pelo menos, serem mantidas como ESTADO DE EMERGÊNCIA até que a Organização Mundial da Saúde considere sob contenção a epidemia.
A Academia Nacional de Medicina, preocupada com o risco de introdução do ebola no Brasil, recomenda ao Ministério da Saúde que aconselhe às Secretarias Estaduais de Saúde a tomarem providências de vigilância e atenção médica para EVENTUAIS CASOS DA DOENÇA, uma vez que pela extensão do nosso país, será impossível prever por onde poderá ocorrer a sua entrada, e tornará difícil realizar exames laboratoriais centralizados em Belém do Pará e a atenção médica em um único hospital do Rio de Janeiro e de São Paulo.
José Rodrigues Coura
José Carlos do Valle
Gerson Canedo de Magalhães
Celso Ramos Filho