OSWALDO CRUZ E O DIA NACIONAL DA SAÚDE, Por Acad. Alcir Vicente Visela Chácar





OSWALDO CRUZ E O DIA NACIONAL  DA SAÚDE, Por Acad. Alcir Vicente Visela Chácar
27/07/2012 - 00:00:00

OSWALDO CRUZ E O DIA NACIONAL

DA SAÚDE

Acad. Alcir Vicente Visela Chácar

 


Comemora-se no dia 5 de Agosto, o Dia Nacional da Saúde. Dia de nascimento de um grande brasileiro, médico e cientista: Oswaldo Gonçalves Cruz; nascido em 1872 na pequenina São Luiz do Piratinga (SP), l35 anos são passados e a grandeza de seus feitos não se perderam com o passar do tempo. Só a historia não faz os homens, mas os homens podem fazer a historia se curvar ante a sua grandeza. E o foi com o grande cientista. Achincalhado, perseguido e incompreendido por seus atos públicos. Só o tempo... E muito tempo depois foi reconhecido.

Filho do médico Bento Gonçalves Cruz e de Amália Taborda Bulhões Cruz veio para o Rio de Janeiro em l887, aos l4 anos de idade, para ingressar na Faculdade de Medicina, se formando em 1892, aos l9 anos - mesmo ano da morte de seu pai. Mais tarde, aos 2l anos de idade, casou-se com Emilia da Fonseca, com quem teve 6 filhos.

Aos 25 anos de idade mudou-se para Paris, onde fez sua pós-graduação no Instituto Pasteur, regressando ao Brasil em l899. A peste bubônica, doença transmitida pelo rato, assolava São Paulo (especialmente em Santos) e também o Rio de Janeiro. O então responsável pela saúde no Brasil, o Barão de Pedro Afonso, desesperado com a situação alarmante, telegrafou para o Diretor do Instituto Pasteur de Paris, o professor Roux, pedindo auxílio, e a presença de um de seus cientistas para empreender um urgente combate a doença que se alastrava.

A resposta veio de imediato: infelizmente, daqui ninguém se dispõe a ir temendo a febre amarela que sabemos aí grassar. Alem disso, o homem que poderá socorrê-lo esta aí mesmo no Brasil. O seu compatriota Dr. Oswaldo Cruz.

Nessa época, circulavam rumores pela Europa e pela América do Norte de que uma nação do novo mundo estava morrendo. Os jornais estrangeiros alarmavam em suas manchetes: "O Brazil está doente". "O Brazil agoniza", "O Brazil é uma terra da morte"... Um navio de guerra Italiano, o Lombardia, ancorou a 800 metros do Porto do Rio de Janeiro e, num curto espaço de tempo, dos 240 membros da tripulação, mais da metade, incluindo o seu comandante, eram sepultados no mar. Os vapores que partiam de Buenos Aires e da Europa, para tranquilizar seus possíveis passageiros, avisava através de cartazes: "Este navio não atracará em portos do Brasil."...

Em 1901, só no Rio de Janeiro, 2300 óbitos eram constatados, numa média de 6 por dia. Em 1902 Rodrigues Alves era então eleito Presidente do Brasil e, em 1903 nomeava Oswaldo Cruz Diretor de Saúde Pública, dando-lhe carta branca para, como prometera, acabar com a febre amarela em 3 anos.

Oswaldo Cruz foi nomeado Diretor Geral de Saúde Pública pelo então presidente Rodrigues Alves, instalando sua equipe numa velha granja em Manguinhos, criando o embrião do instituto que hoje tem o seu nome, e onde desenvolveu o soro anti-pestoso, que logo foi reconhecido pelos Institutos Kock de Berlim, e pelo Instituto Pasteur, de Paris. Um grande êxito no combate à doença. Mas o presidente dependia do Congresso para obtenção dos recursos financeiros solicitados pelo cientista. O que aconteceu somente em 1904. Mesmo assim, parcialmente.

Porém o seu pior inimigo não seria o mosquito, mas a oposição a ele e ao governo que o apoiava.

A lei que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola provoca no Rio de Janeiro a Revolta da Vacina. "A imprensa-marrom" e os políticos opositores bradavam: Abaixo o falso pesquisador! Abaixo o Charlatão! Uma campanha em sua defesa tomou então as ruas. Isso porque Oswaldo Cruz e seu exército de auxiliares de branco, para vencer a ignorância, tiveram que bater forte. Todos os terrenos e imóveis que fossem meios de propagação de mosquitos eram destruídos causando-lhes antipatia popular.

A título de ilustração contaremos um fato pitoresco acontecido na época: intimado a destruir uma casa em área altamente poluída, foi impedido pelo proprietário de uma casa que, apresentando documento firmado por um juiz impedia sua destruição. Pedindo para examinar a sentença, disse Oswaldo Cruz: - Deixe-me ver. E após uma breve pausa concluiu: - Mas aqui não diz nada sobre o telhado da casa. Vamos retirá-lo!  E foi então posto abaixo o telhado, o proprietário mudou-se e o objetivo foi alcançado.

Canções populares e panfletos ridicularizando-o foram espalhados chamando-o de médico louco, despertando uma grande antipatia popular. Alguns políticos inescrupulosos, aproveitando-se da situação, tentaram derrubar o governo, levando o cientista a procurar o presidente Rodrigues Alves, colocando o seu cargo à disposição e recebendo deste como resposta: - Continue, se o senhor cair, cairemos juntos.

Em 1907, o flagelo foi então dominado por Oswaldo Cruz. Foi também uma etapa gloriosa do governo Rodrigues Alves. O Brasil saiu vencedor desta "guerra" e recebeu o cientista a Medalha de Ouro no 14º Congresso de Higiene e Demografia de Berlim.

Neste mesmo ano, Oswaldo Cruz foi recebido na Casa Branca pelo então Presidente dos Estados Unidos Theodore Franklin Roosevelt que, sabendo que a época de maior intensidade da febre amarela era no verão, perguntou: - Posso mandar minha esquadra visitar o Rio de Janeiro, pelo menos no inverno? Respondeu-lhe o mestre Oswaldo Cruz: - Não só no inverno sua esquadra poderá visitar o Rio de Janeiro, até mesmo no verão. Vossos marinheiros estarão tão seguros como se estivessem em NY.

Em 1910 liderou Oswaldo Cruz uma expedição à Belém, onde se construía-se a ferrovia Madeira-Mamoré e, em 1913, aos 41 anos de idade, tomava posse na Academia Brasileira de Letras - embora ainda muito criticado e sem o merecido reconhecimento. Porém, em um artigo no Out Look, edição de dezembro de 1913, o presidente Roosevelt escreveu: "o papel exercido pelo Brasil contra as doenças tropicais usando as armas da ciência não tem sido devidamente apreciados. O Instituto Oswaldo Cruz é perfeito no que concerne aos seus equipamentos. Não o é menos ainda sob o aspecto da capacidade dos seus homens de ciência. O Dr. Oswaldo Cruz é um homem da raça de Pasteur".

Em 1916, aos 43 anos de idade, foi nomeado pelo presidente Wenceslau Braz, prefeito da cidade de Petrópolis, mas estava quase cego e muito doente. Ainda criticado e sem o merecido reconhecimento...

Oswaldo Cruz é mundialmente considerado uma das maiores autoridades no combate às doenças tropicais, e parece ser também muito mais reconhecido lá fora do que em seu próprio país.

 Em 11 de fevereiro de 1917, em seu leito de dor na cidade de Petrópolis onde, em fase terminal vitimado por uma insuficiência renal, Oswaldo Cruz era ainda atormentado pelo barulho ensurdecedor dos constantes panelaços e gritos de grupos de manifestantes que não reconhecendo o valor do seu trabalho saneador, protestavam à porta de sua residência.

            Moribundo, perguntava baixinho ao seu amigo e dedicado médico Clementino Fraga: - O que é isso? Por que o povo grita?  É em reconhecimento ao meu trabalho?  E o médico ao vê-lo morrendo repete ao seu ouvido quase surdo: - Sim, sim, o povo o aplaude. Os gritos são em reconhecimento ao seu trabalho e a sua vida.

           Meu Deus! Que país é este de memória tão curta, que esquece tão facilmente seus heróis e salvadores. A nossa história está cheia de exemplos dignificantes para o mundo. E nossos representantes novamente estão cegos e surdos para as doenças que se alastram por nossas vilas e cidades. A saúde não é mais tão somente como define o Aurélio, "estado do que é sadio ou são´´ .  A  saúde está intimamente ligada a uma moradia saudável, com luz elétrica, água potável, rede de esgoto, acesso ao emprego e a escola para os filhos, aos meios de transportes, e a uma alimentação saudável, além de acesso a médicos, dentista e a vacinação adequada. Vacinas pelas quais tanto lutaram Oswaldo Cruz, Albert Sabin e tantos outros!

         Que os nossos médicos não sejam tão somente terapeutas. Curar, sim, quando preciso. Mas evitar, prevenir, sanear, sempre!                                           

         Para que não precisemos novamente nos render à história, com a volta das doenças e das epidemias já erradicadas.

        Que o exemplo do mártir Oswaldo Cruz, que morreu aos 45 anos de idade, possa ser pra sempre lembrado ao menos no dia de seu nascimento e Dia Nacional da Saúde.