Octávio Augusto Lemgruber
Especialidade:
Acadêmico Patrono
Cadeira: 62
Patrono: destinado a Seção de Medicina Clínica
Mini currículo:
Família Lemgruber
Em 6 de maio de 1818 o Rei D. João VI visando promover o desenvolvimento do Brasil, ainda unido a Portugal, assinou o decreto destinado a financiar despesas com o transporte de cidadãos suíços, compra de terras e construção de casas, para fundar uma colônia em Cantagalo, fazenda denominada "Morro Queimado" . Depois, por alvará de 3/1/1820, o local passou a denominação de Vila de Nova Friburgo.
Dentre os que participavam da imigração, que abrangeu os anos de 1819/1820, estava a família Lemgruber, originária do cantão da Argóvia, na Suíça alemã. Era constituída pelos pais, Inácio e Luzia, com os filhos Antônio, Fridolin, João, Blasius, Marcus, Maria e Fidelis, cujas idades variavam de 2 a 14 anos. Deles descendem os diversos ramos da família Lemgruber, que hoje existem no Brasil, destacando-se nos mais diversos setores.
Do total de 2006 imigrantes que atravessaram o Atlântico em sete navios, levando de 55 a 122 dias na travessia, sobreviveram 1631. Aqui chegando, eles enfrentaram as dificuldades e desafios existentes numa terra estranha, tão diferente daquela que haviam deixado.
Cerca de sessenta anos depois, em 1878, Manoel Ubelhart Lemgruber, que pertencia à primeira geração nascida no Brasil, era proprietário da Fazenda Santo Antônio, no município de Sapucaia no estado do Rio de Janeiro e tornou-se o pioneiro na introdução, criação e disseminação do Nelore no território nacional.
Octávio Augusto Lemgruber
Completou o secundário no Colégio Brasil, em Niterói (1916).
Formou-se pela Faculdade Nacional de Medicina em 1922, diplomando-se também pela Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Iniciou a clínica no interior dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, dedicando-se também às crianças.
Cabe ressaltar, ainda no final do século XIX, a fundação do Instituto de Assistência e Proteção à Infância do Rio de Janeiro (IPAI) pelo médico Carlos Artur Moncorvo Filho em 1899. O IPAI foi modelo para outras instituições que proliferaram pelo país, servindo como referência para os especialistas interessados pelo tema da infância. O médico Moncorvo Filho, mesmo tendo sofrido a morte prematura de seu primeiro filho, pode ser considerado uma das figuras públicas mais importantes tanto na difusão de preceitos higiênicos para as famílias quanto nas ações voltadas para a proteção à infância no Brasil.
Voltou a se radicar em Niterói em 1930.
Foi trabalhar gratuitamente no IPAIN, onde atuou por mais de 42 anos. Na década de 30, além do ambulatório, aí instalou-se o primeiro hospital da cidade para crianças.
Participou, portanto, da criação da Pediatria como uma especialidade à parte, colaborando com o Dr Almir Madeira, dentre outros, no princípio do século XX, com o aparecimento de obras de assistência social, em sua maioria privadas, com atenção voltada à criança em especial. Obras que eram mais de proteção do que de clínica e que iniciaram-se em localidades do interior e na capital do Estado.
Mas verdadeiramente, a primeira obra pediátrica em nossa cidade foi a fundação em 1914 por Dr Almir Madeira e seus colaboradores, incentivados por Dr Moncorvo Filho, da cidade do Rio de Janeiro, do Instituto de Proteção e Assistência à Infância de Niterói (IPAIN), com ambulatórios e depois transformado no primeiro Hospital Infantil de Niterói - inaugurado 25 anos após sua fundação sob a direção do pediatra Dr. Eduardo Imbassay e tendo como sub diretor e chefe de clínica pediátrica médica o Dr. Octavio Lemgruber (22 de novembro de 1939). Permaneceu em funcionamento até 1971.
Formou-se ali uma pequena Escola de pediatria, sem professores, onde todos eram alunos, com conhecimentos adquiridos em variados centros médicos. Na década de 40, criou-se um Centro de Estudos para debate de casos clínicos.
Até o início da década de 30, a maioria dos médicos que exerciam Pediatria também eram médicos de adultos, inclusive Dr Almir Madeira, o pioneiro da Pediatria em Niterói. A partir de 30 a Pediatria cresceu com a instalação das Clínicas de Pediatria da Faculdade Fluminense de Medicina e a construção do HGVFº (inaugurado em 1953), onde se destacaram Drs Álvaro Reis, Almir Madeira, Afranio Garcia, Walter Telles, Cesar Pernetta, Helio de Martino, etc.
A Neonatologia, importante capítulo da Pediatria, surgiu na década de 50, com Drs Almir Madeira e Octavio Lemgruber, reforçando a importância da assistência materno-infantil e da puericultura na Pediatria.
Abaixo segue-se foto da inauguração do primeiro Hospital Infantil de nossa cidade.
Foi grande colaborador e amigo do Dr Almir Madeira, um médico também pioneiro em ideias e realizações em prol da infância pobre de nosso Estado. Além do IPAIN, criou o Consultório de Higiene infantil, as primeiras colônias de férias, implantou a aplicação dos primeiros testes tuberculínicos e da BCG, além de propor a instituição do Dia da criança - 12 de outubro, em 1923, durante participação em Congresso Internacional de Pediatria no Rio de Janeiro.
Fundou e dirigiu a creche do Asilo Santa Leopoldina.
Dentre as instituições filantrópicas tradicionais de Icaraí existentes até hoje, está o Asilo Santa Leopoldina.
O Asilo Santa Leopoldina foi criado no século XIX pelo Vice-Presidente da Província, João Pereira Darrigue de Faro, em substituição ao Presidente Luiz Antônio Barbosa.
O Asilo inicialmente ocupou um prédio junto ao Largo da Memória (atual Praça Gen. Gomes Carneiro, conhecida por nós como Rink), com a finalidade de "abrigar, educar e instruir meninas órfãs". Estiveram presentes à solenidade D. Pedro II e D. Teresa Cristina, seus protetores.
Em 1856 foi levado o Santíssimo Sacramento, em procissão, à nova sede, também provisória, na Rua da Praia (atual Visconde do Rio Branco). Nessa ocasião, houve exposição de trabalhos manuais das internas.
Pouco antes, em 9 de agosto de 1855, foi lançada a pedra fundamental da sede definitiva, na Rua da Constituição (atual Miguel de Frias). Após longo período de obras, o prédio novo foi, finalmente, inaugurado em 15 de janeiro de 1864, onde permanece até hoje.
Irmandade São Vicente de Paulo
O Asilo também foi visitado por personalidades ilustres, como o Frei Francisco do Mont´Alverne, "honrado por um rei e dois imperadores e acatado pela autoridade eclesiástica como oráculo da ciência". Já no início deste século, no dia 31 de outubro de 1906, as internas deram vivas ao Presidente da República, Rodrigues Alves, quando da inauguração dos bondes elétricos em Niterói.
Junto ao Asilo, administrado por religiosas da Ordem de São Vicente de Paulo, funcionam, atualmente, o Colégio São Vicente de Paulo e a Capela de Santa Leopoldina.
Além de todas as brilhantes atividades em vida pública voltadas à Pediatria e à Neonatologia no Estado do Rio de Janeiro e em especial em Niterói, seguem-se ainda outros feitos dignos de relevância:
Participou da execução de programas de assistência à maternidade.
Foi médico do Departamento de Educação Física da Secretaria Estadual de Educação e assistente de pediatria da Policlínica do Rio de Janeiro.
Lecionou puericultura e clínica da primeira infância nas faculdades de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Colaborou com o Dr Almir Madeira na organização do Departamento médico-social- Serviços de Assistência à maternidade e infância- da Legião Brasileira de Assistência.
Foi Membro da Academia Americana de Pediatria, pertenceu também às Sociedades Brasileira e Fluminense de Pediatria. É citado em vários capítulos e é autor de capítulo do Livro "História da Pediatria Brasileira", editado por Álvaro Aguiar e Reinaldo Menezes Martins da Sociedade Brasileira de Pediatria, em 1996. Neste capítulo enaltece com exatidão e respeito a obra do médico Dr Almir Madeira, ao qual refere-se sempre como um exemplo de trabalho, caráter e amizade a ser seguido.
Presidiu o Sindicato dos Médicos do Estado do Rio de Janeiro.
Foi presidente da Academia Fluminense de Medicina (1976), hoje Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro-ACAMERJ.
A autora desta biografia pode concluir que sente-se muito honrada por ter o Dr Octavio Lemgruber como patrono e ressalta que em todos os textos que encontrou , o citado Patrono é invariavelmente citado como um médico idealista e preocupado com a saúde materno-infantil. Muito ativo em prol de seus ideais e do trabalho em equipe e pioneiro, essencial para estabelecer as raízes de uma especialidade médica que não existia na época. E conseguiu ensinar e divulgar, de forma a firmar sua importância que perdura até os dias atuais. Não se discute mais, em lugar algum do mundo, a importância e a necessidade da Pediatria e da Neonatologia dentro da Medicina como áreas específicas e inteiramente voltadas para a criança.
Biografia escrita pela
Acadêmica da Cadeira nº 62 Maria de Fatima Bazhuni Pombo March.