Tito Enéas Leme Lopes
Especialidade:
Acadêmico Patrono
Cadeira: 51
Mini currículo:
Vida, pode ser definida como período de
atividade entre o nascimento e a morte. Morte, seria a cessação da vida, com a
interpretação para sua forma verbal como: deixar de viver; perder a vida;
acabar; extinguir-se; desaparecer da memória. Contrariar este desfecho
biologicamente é impossível, porém filosoficamente não. Diz-se imortal, aquele
que é inesquecível.
Quem cria a imortalidade é o pensamento
vivo, uma vez que ele como energia transitória, está cônscio e sabe em si mesmo
que não é imortal.
É difícil para outra mente, numa sinopse
de recordações, manter sem deturpar a pureza e fidelidade daquela energia que
deseja relembrar.
O Professor Tito Enéas Leme Lopes,
faleceu no Rio de Janeiro, vitima de um ataque cardíaco no dia 23 de maio de
1954.
O nosso convívio com o nosso Patrono foi
muito curto e distante. Tínhamos por ele admiração de um jovem aluno pelo
professor jovem, inteligente e irrequieto. Conversando recentemente com uma de
suas irmãs, ela nos disse que ele talvez tenha sido um dos primeiros "hippies".
Por ocasião do seu sepultamento assim se
expressou o Dr. Mário Schiller de Souza, seu colega de turma:
"Foi no começo do ano de 1921, ao se
iniciarem as aulas da 1ª séries do curso ginasial do Colégio S. Inácio, que
entre os novos alunos surgiu um pequeno, tímido, encabulado, que na chamada da
classe atendeu pelo nome de Tito Enéas Leme Lopes. Em breve prazo, este mesmo
aluno, pequeno, tímido, encabulado, agigantou-se perante todos nós pelos seus
dotes intelectuais e morais, e por sua lealdade e alegria sadia com que se
conduzia. Assumiu a liderança da classe até a terminação do curso.
Era com sentimento de júbilo e de
orgulho que todos nós, quando nas solenidades escolares se proclamava o nome
dos alunos que, "para a Maior Glória de Deus e proveito das letras" se haviam
distinguido entre os demais, víamos Tito situado entre os primeiros, quando não
o primeiro do colégio. Terminamos o curso, dispersaram-se os colegas, mas Tito
e eu ingressamos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde fomos
encontrar alguns antigos companheiros do colégio.
Aí também, em meio a tantos jovens
cheios de ideal, Tito se impôs à benquerença de todos pelos mesmos motivos que
já tanto o haviam distinguido no colégio. Correu o tempo e viemos a nos formar
nesta turma de 1931, tão unida e coesa nas alegrias e tristezas. Hoje aqui
estamos atônitos pelo acontecimento infausto que nos atingiu com esta
irreparável perda".
No dia 30 de junho de 1954, realizava-se
na Reitoria da Universidade do Brasil pela Faculdade Nacional de Farmácia, pela
Faculdade Fluminense de Medicina e pelo Instituto de Biofísica, uma sessão em homenagem
à memória do Prof. Tito Enéas Leme Lopes.
Do discurso do Prof. Roberto Pereira dos
Santos, conseguimos extrair:
"Difícil tarefa se nos torna, a de falar
de amigos, relembrando episódios idos e vividos no trato quase diuturno da
companhia inesquecível do Prof. Tito. Ele não foi para nós outros, um simples
amigo e colega, porque foi quase irmão.
Como acadêmico de medicina fez-se
interno dos Hospitais de São Francisco de Assis e do Pronto Socorro, datando
dessa época a primeira manifestação d seu incontido pendor ao magistério, com
aceitar a regência de turmas para o ensino de Matemática e de Física em
colégios particulares.
Em 1934 foi incumbido de supervisionar e
orientar o serviço de "Inspetoria de Laticínios", sediada em Guaratinguetá, no
Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, onde também, impelido pela mesma
inclinação sacerdotal do magistério, logo se fez docente de Biologia
Educacional na Escola de Professores da localidade.
Em 1938, ainda animado do mesmo ensino -
tropismo que lhe era constitucional e orgânico, e que o arrastava à guisa de
novo reflexo condicionado - alcançou a mira das suas naturais e louváveis
ambições e, deixando embora posições já consolidadas e futurosas, assentiu em
chefiar o laboratório de Biofísica na Faculdade de Medicina da Universidade do
Brasil, a convite insistente do catedrático da matéria. Mal pensariam talvez,
os dois amigos e colaboradores de então, que a nova tarefa cometida ao jovem
auxiliar servir-lhe-ia de marco miliário na sua rápida e merecida ascensão na
brilhante carreira do magistério.
Adaptado ao meio, integrado nas funções,
seduzido pelo exemplo do seu chefe e amigo, fascinado pela beleza da profissão,
em breve se tornou, sem favor nem eufemismo, "the right man in the right place".
E assim, dominando magistralmente a
disciplina e sua técnica, tornou-se um especialista no assunto e não encontrou
concorrente, quando se inscreveu em concurso para a cátedra, na Faculdade
Fluminense de Medicina, de cuja congregação passou a ser ornamento e lidimo expoente.
Pouco depois, em 1947, repetia as exaustivas e brilhantes provas na Faculdade de farmácia da Universidade do Brasil, tornando-se bi-catedrático no ensino superior do país. Já agora seu nome ultrapassara fronteiras e vencera as distâncias marítimas, donde ser convidado para estagiário em laboratórios franceses de renome, nos quais aperfeiçoou conhecimentos, obtendo invejáveis títulos honoríficos.
Incansável perscrutador, incursionava amiúde, e alternadamente, pelos domínios da especulação filosóficas bem como no plano objetivo das pesquisas de laboratório, tendo deixado regular cópia de trabalhos neste gênero, sobretudo no terreno da espectrometria.
Imparcial, equânime e afável, mas enérgico e sereno, procurava sempre julgar e dar notas com inteira isenção de ânimo, sem se deixar influir por forças estranhas ou por eventuais ressentimentos íntimos, numa constante preocupação em não ferir direitos ou cometer injustiças.
E quanta recordação doravante sentiremos, seus companheiros de banca, daquelas horas saudosas, em que lado a lado porfiávamos na seleção de candidatos ao ingresso na nossa Faculdade que tanto hoje lhe deve e a que tanto amou e serviu.
De Tito Enéas Leme Lopes, o menor que se pode afirmar é que foi um coração generoso e bom, um companheiro alegre e franco, um cidadão exemplar e completo, um amigo leal e certo nas horas embruscadas"
Nessa mesma sessão assim se manifestou o Prof. Mário Taveira: "AMIGO, dizem os dicionaristas: o que ama, aquele que estima, o que tem amizade, que aprecia. Ainda mais: Benévolo aliado.
Pois bem senhores, se
houve alguém a quem se possa aplicar todos os significados da palavra - AMIGO -
este foi Tito Enéas Leme Lopes.
Entre os adultos,
adepto da benevolência, pela satisfação de praticar o bem, mesmo àqueles que,
sabidamente, não lhe iriam corresponder. Aliado das sadias causas e mais ainda,
daqueles que se encontrassem na iminência de sucesso. Indulgente para com os
incrédulos e pessimistas, mas, enérgico para com os mistificadores e
maledicentes, intolerante para com os covardes.
Verdadeiro amigo de
seus amigos, tudo sacrificando em prol do bem-estar destes últimos.
Sabia medicina como
muito poucos, porém, preferiu não exercer a clínica por muito tempo.
Como conferencista,
na Escola de Saúde do Exército e nas Sociedades Científicas sempre demonstrou
sua alta capacidade de transmissão de conhecimentos.
Era poliglota, nosso
tradutor, tanto sabia o vernáculo, como o francês, o alemão, o italiano, o
inglês e o espanhol.
Figurava entre os
poucos que mereceriam, ao fim da carreira, o título de professor emérito.
Prestou vários
concursos para as diversas gradações da carreira de professor universitário.
Dotado de verdadeiro
espírito universitário altamente desenvolvido, a cada passo, ia cedendo tudo a
seus colegas e discípulos: instalações de sua cátedra, livros, aparelhagem,
tudo enfim, por achar que, a rigor, aquilo pertencia à Universidade, aos
colegas de hoje e aos de amanhã.
Ocupou vários cargos
de responsabilidade, quase todos por concurso, dentro e fora da especialidade
que abraçara, os quais foram exercidos com viva demonstração de qualidades
excepcionais.
O Instituto de
Biofísica, a Cadeira de Física Biológica da Faculdade Nacional de Medicina, a
mesma cátedra na Faculdade Fluminense de Medicina e a de Física Aplicada à
Farmácia em nossa Faculdade, foram honradas com a sua colaboração ou com sua
proficiente chefia.
Na Universidade de
Paris, pelas atividades que desenvolveu na Faculdade de Farmácia, junto ao
Prof. Guillot, recebeu o título de "Encarregado de Conferências na qualidade de
estrangeiro".
Três vezes doutor,
duas em Medicina, e uma em Farmácia, por efeito das teses que defendeu
brilhantemente para o exercício do magistério superior.
Com diversas
monografias publicadas, de sua exclusiva autoria ou com colaboração, em
evidente domínio dos assuntos de sua especialidade. Nestes últimos dois anos,
vinha mantendo pesquisadores sob sua orientação, na Cadeira da nossa Faculdade,
tendo apresentado importantes trabalhos de investigação ao Conselho Nacional de
Pesquisas.
Meus caros amigos,
eis aí, sumariamente, o que, vivamente emocionados, podemos relatar, com
palavras arrancadas do fundo d´alma, com respeito e afeto, sobre a Vida e a
Obra de nosso inolvidável companheiro, Tito Enéas Leme Lopes".
Seu companheiro Prof.
Carlos Chagas Filho, recordava os tempos de juventude dizendo: "Conheci-o
provavelmente no meu primeiro dia de Faculdade. Época feliz de entusiasmo e ideais,
vivida na intensidade de nossos corações então jovens, na qual abordávamos pela
primeira vez o mundo novo que escolhêramos para palmilhar.
Pouco a pouco
interesses iguais, as mesmas tendências de espírito, a mesma admiração por
sábios ou poetas, filósofos ou escritores ilustres mais nos aproximariam.
Nossos primeiros anos
de escola foram férteis em experiências, revelações e mesmo desapontamentos.
Magistral ensaio de
Medeiros e Albuquerque fez-nos conhecer Freud que se tornou motivo de
discussões contínuas em nossa turma, de aproximações, e, às vezes, de
afastamentos.
Proust revelava-nos
nova perspectiva emocional, e aliado a Mauriac, lançado entre nós pelo espírito
de contrarreação católica, nos separou definitivamente das admirações
literárias de nossos pais.
Em política queriam a
liberdade total, talvez, decepcionante, de que nos fala Peguy. Assim era a
nossa turma. Foi assim que encontrei o amigo.
Não seria de
estranhar que meu primeiro gesto ao assumir a cátedra, nascido da conspiração
amiga em que participei com Almir Castro Eduardo Tinoco e Álvaro Pinto, seria o
de trazê-lo de volta ao Rio, do seu posto de Inspetor Geral de Leite de
Guaratinguetá, aonde o levara a necessidade de subsistência.
Seu sucesso aqui não
se fez tardar: em rápida ascensão chegou às duas cátedras da Faculdade de
Medicina de Niterói, e da Faculdade Nacional de Farmácia.
Em concurso recente
para nosso prazer, a arguição de tese que fez, suplantou pela precisão, lógica,
e visão panorâmica, a dos especialistas presentes.
Qualidades
insuperáveis tornaram-no o professor sem par que resolveu as nossas
dificuldades didáticas.
Alma de poeta, será
ele o melhor retrato do amigo exemplar".
Finalizando a sessão
falou agradecendo, seu irmão Padre Francisco Leme Lopes, dizendo: "Ergue-se
mais uma vez uma voz fraterna para tentar dizer do reconhecimento da família de
Tito Enéas Leme Lopes pelo conforto recebido em sua consternação.
Mais uma voz
fraterna. Sim, porque foram também fraternas as vozes que aqui se ouviram e as
que antes nos testemunharam a participação na mesma saudade:
Um amigo é um irmão
que se escolhe. Tito soube escolher muitos irmãos. Só as grandes almas sabem
compreender tudo o que há de grande na bondade. Tito era profundamente bom Vós
que fostes por ele escolhidos para irmãos, soubestes compreender sua bondade.
Um irmão é quase
outro "eu". Vós que fostes seus irmãos pelo coração, permitireis que um irmão
de sangue possa trazer também seu testemunho fraterno.
Na evocação do
convívio diário de tantos anos, eu revejo o meu companheiro de todas as horas
sob o mesmo teto familiar, a seguir os mesmos cursos, a orar nas mesmas
capelas, a brincar nos mesmos pátios. Eu o vejo com menos de oito anos
traspassado pela mesma dor comum da ausência de um Pai digno e querido, roubado
ao nosso carinho pela epidemia de 1918. E eu o revejo pouco depois revestido no
mesmo dia que eu com o mais belo dos uniformes - o de neocomungante - numa
manhã de setembro de 1919. E eu o vejo passando da Escola Basílio da Fama para
o nosso querido Externato Santo Inácio.
Durante o seu curso
de Medicina, nós nos separamos. Assim pediu a vocação religiosa, que ele mesmo
Um dia,
particularmente doloroso, nos reuniu em 1935 no lar de nossa infância para
dizermos adeus à Mãe admirável que soubera como poucos unir tanta doçura no
trato e tanta energia em enfrentar as dificuldades da vida".
Após discorrer sobre
a evolução da sua vida profissional, da forma corno ele chamou de testemunho
fraterno, o Pe. Leme Lopes encerrou o seu discurso, repetindo as palavras do Monsenhor
D´Hulst: "O amor de Deus na eternidade, a amizade dos verdadeiros amigos na
terra, eis tudo quanto há de bom".
Filho de Tito Lopes
Carvalho da Silva e de Maria de Lourdes Leme Lopes, nascia no Rio de Janeiro a
21 de novembro de 1910, TITO ENÉAS LEME LOPES.
Biografia escrita
pelo Acadêmico Ronaldo Fontes.
Adendo:
Nasceu no Rio de
Janeiro a 21 de novembro de 1910, filho de Tito Lopes Carvalho da Silva e de
Maria de Lourdes Leme Lopes.
De 1921 a 1926 fez o
Curso Secundário, sob o regime de preparatórios, no Colégio Santo Inácio.
Matriculou-se na
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Medicina,
no ano de 1926, tendo terminado seu curso em 1931. Durante esse período
trabalhou corno interno no Hospital São Francisco de Assis e no de Pronto
Socorro, dedicando-se igualmente ao magistério particular.
Em 1932 e 1933 foi
assistente voluntário do Serviço do Dr. Jorge de Gouvêa no Hospital São
Francisco de Assis.
De 1934 a 1937
trabalhou no Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, na Inspetoria de
Laticínios de Guaratinguetá.
Em 1936 foi
encarregado do Curso de Biologia Educacional da Escola Normal de Guaratinguetá.
Em 1938, a convite do
Professor Carlos Chagas Filho, assumiu as funções de assistente da Cadeira de
Física Biológica da Faculdade Nacional de Medicina, sendo igualmente seu Chefe
de Laboratório.
Em 1943 obteve, por
concurso, o título de Livre Docente da Faculdade Nacional de Medicina.
De 1944 a 1946 exerceu
as funções de Técnico Especializado do Laboratório de Biofísica.
Em 1946 coube-lhe a
regência interina da cadeira de Física Biológica da Faculdade Nacional de
Medicina, no impedimento do respectivo titular Professor Carlos Chagas Filho.
Em 1940 fora
contratado Professor Catedrático da Faculdade Fluminense de Medicina. Em 1947
foi efetivado nesse cargo, após concurso em que obteve notas dez de toda a
Comissão Examinadora no conjunto das provas realizadas.
HOMENAGENS PÓSTUMAS
Entre outras instituições,
prestaram homenagens póstumas:
Reitoria da
Universidade do Brasil
Conselho
Universitário
Faculdade Fluminense
de Medicina
Instituto de
Biofísica da Faculdade Nacional de Medicina
Conselho Nacional de
Educação
Conselho Nacional de
Pesquisas
Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas
Conselho
Departamental de Física da Faculdade Nacional de Filosofia
Academia Brasileira
de Ciências
Academia Nacional de
Farmácia
Associação Brasileira
de Farmacêuticos
Associação Médica do
Distrito Federal
Associação Médica
Fluminense
Sindicato dos Médicos
do Rio de Janeiro
Associação dos
Antigos Alunos dos Padres Jesuítas
Instituto Brasileiro
de História da Medicina
Diretório Acadêmico Barros Terra da Faculdade Fluminense de Medicina
Câmara Municipal de
Guaratinguetá
Fonte desconhecida.