João Carlos Teixeira Brandão
Especialidade:
Acadêmico Patrono
Cadeira: 36
Mini currículo:
João Carlos Teixeira Brandão, filho de
Felicio Viriato Brandão e Dona Maria Flora Teixeira Brandão, nasceu em São João
Marcos, Estado do Rio de Janeiro, a 28 de dezembro de 1854, na freguesia do
Arraial de São Sebastião, bacharelou-se em Ciências e Letras no Colégio Pedro
II, matriculando-se em seguida na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde
foi discípulo de Torres Homem.
Terminado o seu curso médico, após
defesa brilhante de tese inaugural ,começou a clinicar em seu estado natal, na
cidade de Barra Mansa. Nessa localidade exerceu a sua profissão de 1878 a 1880.
Em seguida, por sugestão de seu grande
mestre e amigo, o Professor Torres Homem, embarcou para a Europa, onde foi
estudar psiquiatria, na França, Alemanha e Itália.
Em abril de 1883 foi nomeado, após
disputado concurso, professor catedrático de Clínica Psiquiátrica e Moléstias
Nervosas da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e Diretor do Instituto de
Neuropatologia do Hospício D. Pedro II, onde passou a funcionar a Cátedra para
a qual fora nomeado, cujas funções exerceu até a sua morte em 03 de setembro de
1921.
Teixeira Brandão tinha apenas 29 anos de
idade quando obteve o primeiro lugar no concurso a que se submeteu para
catedrático de Clínica Psiquiátrica,
Foi o iniciador dessa disciplina no
Brasil e o primeiro professor, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Dele escreveu Henrique Roxo, seu
discípulo, interno acadêmico e seu substituto na Cátedra da Faculdade:
"Tendo uma grande facilidade de
exposição, sendo um espírito muito sintético, as suas aulas deleitavam pela clareza
com que expunha os assuntos, pela soma vultosa de ideias próprias com que
instruía seus alunos".
Naquele tempo a medicina mental era um
amontoado de concepções filosóficas, de ideias teóricas e quem lia os
compêndios estrangeiros tinha a impressão de que ali se achava um objetivo de
estudo para diletantes, sem qualquer característica prática.
Bianchi, Tranzi e Muselli eram os únicos
que apresentavam uma exposição de elementos orgânicos nas doenças mentais e se
preocupavam com a subordinação dos distúrbios psíquicos às normas gerais da
Anatomia e da Fisiologia do Sistema Nervoso.
Teixeira Brandão, conhecendo bem a
literatura estrangeira, foi além e começou a fazer um estudo da Psiquiatria
Científica e logicamente fundamentado na Anatomia e Fisiologia do Sistema
Nervoso.
Naquele tempo, a nossa língua era obstáculo à comuncaçãoo, por isso as suas aulas não foram publicadas. Se as suas
aulas fossem publicadas ver-se-ia que havia uma Psiquiatria Brasileira. Aqui se
começava a fazer psicologia experimental, mostrava-se a relação de dependência
entre o cérebro e os demais órgãos e aparelhos da economia fisiológica,
raciocinava-se a respeito da gênesis das doenças mentais.
Teixeira Brandão era um espírito muito
progressista e tinha ideias próprias e antevia interpretações da gênese das
doenças mentais, muitas das quais só muito mais tarde vinham a ter divulgação
no estrangeiro.
Foi o verdadeiro criador da Psiquiatria
Brasileira.
Em 24 de outubro de 1884, foi Teixeira
Brandão nomeado alienista do antigo Hospício D. Pedro II, passando logo depois
a Diretor do mesmo estabelecimento.
Em 18 de fevereiro de 1890, tendo obtido
do Governo Provisório a reforma dos serviços a seu cargo, foi nomeado Diretor
Geral de Assistência Médico Legal dos Alienados. Em 27 de fevereiro de 1891, em
virtude da nova reforma, passou a Inspetor Geral da mesma Assistência, cargo
que ocupou até 1899, quando foi o mesmo surpresso por medida de economia.
Como Diretor do Hospício impediu que sequestrações
arbitrárias fossem levadas a efeito e muitas vezes pediu a adoção de medidas
legais que garantissem os internados em relação a seus bens e impedissem as
fraudes criminosas, pela exigência dos exames prévios de sanidade antes do
indivíduo ser recolhido ao Hospital.
Outro problema para cuja solução sempre
se esforçou o Professor Teixeira Brandão foi o relativo à criação dos manicômios
judiciários. Na realidade a assistência aos alienados oferece características
próprias especialmente no que se refere às relações sociais e jurídicas entre tais
doentes e a sociedade em geral e às suas famílias em particular.
Em maio de 1896 publicou um trabalho sobre
a "Assistência aos Alienados" no qual reuniu as opiniões mais esclarecidas dos
alienistas europeus, examinando as legislações do Velho Mundo relativas ao
caso.
Na lei a que, da tribuna da Câmara se
referiu o Professor Teixeira Brandão, já havia providenciado para que tais
enfermos criminosos tivessem um estabelecimento adequado à sua situação. E
isso, como ele acrescentou, para que se evitasse entre nós a anomalia de,
absolvido como alienado, o criminoso que comparecia ao júri fosse posto em liberdade,
o que ainda ocorria, quando se tratava apenas de um "degenerado" averiguado,
sujeito a impulsos.
Se o tribunal o absolvia, o Poder Público
o mandava para a rua sem mais formalidade, resultando isso na ameaça contínua
aos transeuntes indefesos.
Apesar de tão amplamente justificada por
Teixeira Brandão dessa necessidade do nosso aparelhamento médico-social, só em
1921 foi criado o primeiro Manicômio Judiciário no Brasil.
A vida do Prof. Teixeira Brandão foi uma
continua luta em prol dos alienados, desde a sua nomeação para a direção do
Hospício até o fim de sua existência.
Durante a monarquia, luta contra as
providências da Santa Casa, durante a República, luta pelo bom atendimento dos
serviços de assistência aos psicopatas e pela melhor instituição dos regulamentos
e das leis de proteção aos infelizes insanos mentais.
Foi o Professor Teixeira Brandão quem
primeiro aplicou no Brasil o sistema de "Portas Abertas" (Open Door),
adotando-o em sua clínica da Faculdade de Medicina arrancando as camisas de
força e mandando retirar as grades de ferro dos quartos dos insanos agitados,
sistema tão preconizado pelos psiquiatras ingleses.
Incontestavelmente foi Teixeira Brandão
o iniciador da assistência aos insanos mentais em nosso país.
Recebendo-a em suas mãos em embrião, de
fato um depósito de alienados, pois nem havia entre nós psiquiatras e os
médicos lutavam contra os preconceitos então dominantes sobre a loucura e o
modo de tratar os loucos, deixou aos seus continuadores um instituição oficial,
com uma legislação sobre os alienados que nada ficava a dever às melhores
existentes nos países mais avançados.
Para tanto foi preciso uma luta contínua,
impregnada de cívica coragem, de muita abnegação pessoal e de contratempos
morais de toda sorte em face de um meio pouco propício a transformações
radicais.
Nem pessoal habilitado ao tratamento dos
loucos havia, tendo sido necessário contratar alguns enfermeiros, que vieram da
França, Alemanha e de Portugal.
Foi ainda sob sua direção que foi criada
a Escola Especializada de Enfermeiros, a primeira no Brasil, por Decreto do
Governo Provisório de 27 de setembro de 1890, mas que só começou a funcionar em
1905 já sob a direção de Juliano Moreira, a "Escola Alfredo Pinto".
Foi ele o iniciante da
formação dos nossos primeiros psiquiatras.
Por sua iniciativa, foi o Hospício
desanexado da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, levando, para
aquela primeira instituição, o patrimônio que lhe pertencia e que se achava sob
a administração da segunda.
O Professor Jefferson de Lemos, ex-aluno
do Professor Teixeira Brandão ,assinalando lhe os principais traços biográficos,
em artigo publicado nos "Arquivos do Serviço Nacional de Doenças Mentais",
refere-se ao seu devotamento à criação e ao desenvolvimento da Assistência aos
Psicopatas do Brasil. Relata circunstâncias e fatos inéditos da vida de
Teixeira Brandão, que sempre colocou a causa pública acima de seus interesses
pessoais, e revela como ele chegou mesmo ao ponto de abrir mão de metade dos
vencimentos a que tinha direito em favor do Hospício Nacional do Alienado.
Ainda como Diretor Geral da Assistência
Legal aos alienados, promoveu a criação das colônias de alienados do "Galeão" e
"São Bento" na Ilha do Governador, as primeiras da América do Sul.
Com os professores Júlio de Moura,
Felicio dos Santos e Lourenço Cunha fundou a Casa de São Sebastião, na Rua Bento
Lisboa, Rio de Janeiro, para doentes mentais e nervosos, possuindo uma completa
instalação de hidroterapia, muito usada na época.
Dedicou-se às ideias republicanas, sendo protagonista
com Anibal Falcão e Demétrio Ribeiro. Assinou o manifesto de 1870. Durante a
revolta de 1893 prestou relevantes serviços à causa da legalidade, sendo por
isso galardoado com a patente de Coronel Honorário do Exército Brasileiro,
concedida pelo Marechal Floriano Peixoto.
Muito patriota, Teixeira Brandão fez
doação de terrenos que lhe pertenciam, em Angra dos Reis, à União, terrenos
onde hoje se erguem o Colégio Naval e a Escola de Grumetes.
O Professor Teixeira Brandão era um dos
membros mais antigos da Academia Brasileira de Medicina. Desde 1883, era membro
da "Societé Medique - Psychologique de Paris". Em 1892 representou o Brasil no
3° Congresso de Antropologia Criminal que se reuniu em Bruxelas.
Com o Professor Azevedo Sodré, fundou o
"Brasil Médico". Em 1897 fundou a Sociedade de Jurisprudência Médica e
Antropológica, da qual os Arquivos de Jurisprudência Médica e Antropológica
era o órgão oficial.
Em 1905, com a fundação da Sociedade de
Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal, por proposta do Professor Juliano
Moreira, foi o Professor Teixeira Brandão eleito, por unanimidade, seu
Presidente de Honra. O Primeiro Congresso Brasileiro de Neurologia, Psiquiatria
e Medicina Legal conferiu-lhe igual título.
Em 1903 foi eleito Deputado Federal pelo
Estado do Rio de Janeiro, tendo exercido esse mandato durante cerca de 18 anos
com grande brilho. Teve ocasião de relatar, apresentar e fundamentar diversos
projetos que depois se transformaram em Leis. Assim a lei que criou o
Departamento Nacional de Saúde Pública é de sua autoria. Também foi Teixeira
Brandão quem apresentou e fundamentou na Câmara dos Deputados o respectivo
projeto.
É igualmente seu, o projeto de vacinação
obrigatória contra a varíola, para não citar outros igualmente úteis para a
causa coletiva no país.
Na Câmara ocupou lugares de destaque em
várias Comissões, tendo sido diversas vezes Presidente da Comissão de Saúde
Pública e relator da Comissão de Instrução Pública.
Com o Professor Rodrigues Lima, relatou
o projeto de reforma de Assistência aos Alienados, no Governo Rodrigues Alves.
Além desses serviços de ordem médica,
foi ele quem, em colaboração com Rodrigues Barbosa, obteve a reforma do ensino
de música em nosso Conservatório então confiado à grande competência do
inesquecível Maestro Leopoldo Miguez.
Deve-se assinalar que de quantos
professores da Faculdade de Medicina que foram Deputados ou Senadores, nenhum conseguiu
tanto para o ensino de sua Cátedra como o Professor Teixeira Brandão.
Escreveu trabalhos científicos de grande
valor, porém apenas alguns deles fez publicar. Entre esses posso anotar os
seguintes:
1884 - DES ETABLISSEMENTS D´ALIENÉS AU
BRESIL.
1886 - OS ALIENADOS NO BRASIL, no qual
pesquisa, denuncia e faz sugestões para mudanças e onde fala, pela primeira vez
em Profilaxia da Loucura, trabalho esse considerado como o alicerce da
Psiquiatria Social no Brasil.
1887 - Ideias Fixas - Paranóias.
1888 - Perturbações Psíquicas
Elementares. Instinto da Vontade. Sintomas Intelectuais. Perturbações da
Memória, Causas que concorrem para a pequena frequência da paralisia Geral no
Brasil.
1892 - Relatório de Assistência
Médico-Legal aos Alienados.
1897 - Os Alienados e a Imprensa -
Cérebro de um idiota microcéfalo.
Pareceres Médicos Legais (em colaboração
com Marcio Neri).
1898 - Crises de debilidade mental com
manifestações episódicas de delírio múltiplo.
1906 - Educação Nacional no Regime
Republicano.
1918 - Elementos de Psiquiatria Clínica
e Forense. Nos Anais da National Association for Study of Epilepsy de St. Louis
encontram-se várias memórias suas assim como conferências nos Anais do Societé
Medique - Psychologique de Paris.
Biografia escrita pelo Acadêmico Luiz Manoel Teixeira Brandão.