Antonio de Barros Terra
Especialidade:
Acadêmico Patrono
Cadeira: 29
Patrono: destinado a Seção de Ciências Aplicadas à Medicina
Mini currículo:
O Dr. Antonio de Barros Terra, carioca do Engenho Novo, nascido em 19 de fevereiro de 1878, recebeu sua instrução primária no Colégio Santa Cândida, conceituado estabelecimento de ensino da época, após preparatórios com professores particulares, quando frequentou também o "Instituto Didático".
Ingressou a seguir na Escola de Farmácia, da então Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando- se em 1901, e pelo mesmo Instituto Superior de Ensino, atual Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, veio a formar-se em Medicina no ano de 1904.
Ao término do curso, quando brilhantemente defendeu a tese que versava sobre "A Segunda Bulha Cardíaca", aprovada com distinção, colou grau de Doutor em Medicina.
Desde pequeno Barros Terra sempre aspirou ser médico, embora seu avô fosse bacharel em Direito. Ao brincar com suas irmãs, sempre impunha uma condição: só aceitaria ser o médico de suas bonecas, apenas para ter a oportunidade de exercer a medicina...
Estava em Lorena, São Paulo, em busca de recuperação devido a esgotamento causado pela atenção e atendimento ao seu irmão enfermo, quando conheceu Alice Barreiros, moça prendada, filha do fazendeiro e político local, Coronel Vicente Barreiros e de Rosa Augusta Rodrigues Barreiros. Enamorou-se de Alice com quem veio a casar-se em 20 de janeiro de 1906. Por quase 50 anos essa figura o acompanhou diariamente com ternura e carinho, e por isto e por ela, aceitou o cargo de Médico da Estrada de Ferro Minas e Rio, com Lotação em Cruzeiro.
Abraçou a clínica do interior: partos sem número; cirurgia - intervenções cirúrgicas realizadas em toscas mesas sempre por ele mesmo desinfetadas, tendo por anestesia o farmacêutico local, e por iluminação, tochas seguras por trabalhadores através de portas e janelas. Certa feita, já participante da política, recebeu um chamado de seu maior inimigo político, que vivia a ameaçá-lo de morte, para atender seu filho único, gravemente enfermo. Mesmo respeitando o receio da esposa de que isso fosse uma cilada, e embora febril, acompanhou sob forte temporal o capanga de seu inimigo por terrenos alagadiços e perigosos. Retornou no dia seguinte, cedo, deixando o menino fora de perigo e trazendo consigo três distintas vitórias: uma para o homem, a segunda para o médico e a terceira, também para o político.
A sobrecarga da medicina interiorana não evitou que a política tomasse conta dos pensamentos de Barros Terra e ele nela ingressou através das costumeiras injunções. Na época, político que se prezava tinha que ter brasão - um jornal - e Barros Terra fundou o "Correio do Cruzeiro", onde durante largo período seus adversários sofreram com o assédio de seu fundador e de seus correligionários.
E enquanto se consolidava a fama merecida do médico humano e competente, firmava-se o prestigio do habilidoso chefe político.
Após algumas escaramuças políticas e atendendo ao pedido de seu avô, senhor doente, cardíaco adiantado, partiu para o Rio, largando tudo para trás - excelente situação médica, pessoal e política. Já então com dois filhos, da estaca zero parte para uma nova vida. E enveredou pela vida de cidade grande trocando o interior pela clínica de bairro - Estação de Riachuelo.
Sobrecasaca, chapéu alto, colete, peito e punhos rijamente duros na alvura de linho, assim se dirigia para o tílburi, o automóvel de então que, o esperava à porta, complemento indispensável para sua atividade que crescia assustadoramente.
Era o bom e competente médico do bairro.
E atendia tanto em Rocha Faria e na Saúde, como em São Cristóvão ou no Meier e até no sertão carioca. Eram os agrestes caminhos para a conquista da grande cidade. Era o exercício hipocrático da profissão em duas distintas fases: a sacerdotal e a propedêutica.
Em 1925, no Estado do Rio, junta-se a Antonio Pedro, Manoel Ferreira, Senna Campos, Artidônio Pamplona e outros e funda a Faculdade Fluminense de Medicina, sendo catedrático de Química Orgânica e Biológica, e, em vários cursos, rege ainda as cadeiras de Química Geral e Mineral, Química Biológica e Química Fisiológica.
Mais tarde, afastando-se da regência das cátedras, Barros Terra assume a Direção da Faculdade, quando esta atravessa um momento crítico, com problemas de toda ordem ameaçando a vida de uma instituição que, posteriormente, se tornaria um modelar estabelecimento. Aí Barros Terra mostrou mais uma qualidade: a de administrador quando com pulso firme e decisão, disciplinou e converteu uma instituição caluniada e sem recursos na excelente Faculdade de hoje.
Vacinado contra a mesquinhez, sem vaidade, foi sempre um apreciador de talentos jovens, que descobria ao longe e os quais gostava de acompanhar no acesso às cátedras. Era o emérito admirador da renovação de valores.
Através da energia de Barros Terra e da sua inabalável fé, a Faculdade Fluminense de Medicina tornou-se o Éden das aspirações de todos aqueles que são atraídos pelo ensino superior e ali encontram o tão almejado ambiente.
Embora severo, era bondoso e compreensivo. Exigia o cumprimento à lei: só prestava exame quem tivesse pago as taxas! Mas... escondido das famílias, costumava emprestar aos estudantes pobres, a fim de que alguns mil réis não impedissem aqueles alunos de continuarem seus estudos...
Nunca fez questão de deixar valores materiais para os filhos; mas legou coisas mais importantes: exemplos de caminhos honestos e firmeza de caráter naturalmente transmitidos por um chefe de família exemplar. E nos diversos discursos de paraninfo, esses foram sempre seus ditames. De outra parte, os oradores que o saudaram em diversas homenagens nada mais fizeram que reconhecer sobejamente essas virtudes.
Assim foi Barros Terra. Homem a quem será difícil dizer, nele, o que foi mais profícuo: se a pessoa, se o médico, se o administrador, e, mesmo, se o político.
Resta pedir a Deus que traga a este mundo outros Barros Terra, para inundar esta superfície de amor e sabedoria...
Este é um pequeno quadro, humilde e sintético, mas ornado de admiração e carinho, de um Homem a quem todos estimaram e admiraram.
Aqueles que conviveram com Barros Terra agradecem por isso.
Resumo:
FILIAÇÃO: Manoel Pereira Terra e Amélia de Barros Pereira Terra.
NASCIDO em 19 de fevereiro de 1878.
NATURAL DA CIDADE do Rio de Janeiro, bairro do Engenho Novo. A atual Igreja do Engenho Novo era a capela da casa onde nasceu.
ESTUDO PRIMÁRIO no Colégio Santa Cândida.
PREPARATÓRIOS com professores particulares, entre eles o Prof. Emetério José dos Santos. Esteve num curso cujo nome parece ser "Instituto Didático".
DIPLOMADO EM MEDICINA em 1904 pela atual Faculdade Nacional de Medicina da U.B., então Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
DIPLOMADO EM FARMÁCIA em 1901 pela atual Faculdade Nacional de Farmácia, anexa à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
DOUTORAMENTO: Defendeu tese com o título "Da segunda bulha cardíaca", na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
CARGOS OCUPADOS: Quando estudante: interno dos serviços clínicos dos Professores Rocha e Miguel Couto e do Instituto de Assistência à Infância. Médico da Estrada de Ferro de Minas Rio, lotado em Cruzeiro, Estado de São Paulo, onde passou 4 anos fazendo Clínica Geral e Cirurgia. Foi político local.
NA FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO:
- Preparador da Cadeira de Química Médica, nomeado em 1912.
- Assistente da Cátedra de Química Orgânica e Biológica, em virtude de ter sido desdobrada a Cadeira de Química Médica, em 1925.
- Substituiu, de agosto de 1925 ao fim do ano letivo, o Professor Tibúrcio Valeriano Pecegueiro do Amaral. Foi assistente também do Prof. Diógenes Sampaio.
- Assistente de Química Fisiológica pelas substituições da Cadeira de Química Orgânica e Biológica pela Cadeira de Química Fisiológica em 1931.
- Chefe do Laboratório de Química Fisiológica da então Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
- Designado pelo Diretor da Faculdade de Medicina Rio de Janeiro, em 1932, para reger o curso de Química Orgânica;
- Realizou curso equiparado de Química Fisiológica para alunos do 2° ano.
NA FACULDADE DE FARMÁCIA, anexa à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Farmácia, da U.B.:
- Encarregado de regência da Cadeira de Química Orgânica e Biológica da Escola de Farmácia anexa à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, de 1927 a 1932;
NA FACULDADE HAHMENIANA exerceu sua atividade no magistério.
NA FACULDADE FLUMINENSE DE MEDICINA:
- Foi do grupo que fundou a Faculdade;
- Foi diretor da Faculdade por 13 anos, a partir de 1932;
- Foi Prof. de Química Geral e Mineral desde 1926 e depois de Química Orgânica e Biológica, e por fim, de Química Fisiológica;
- Construiu o prédio da Policlínica da Faculdade Fluminense de Medicina.
- Construiu o pavilhão anexo, da mesma Faculdade.
NA FACULDADE NACIONAL DE FILOSOFIA:
- Catedrático Interino da Cadeira de Química Orgânica e Biológica de 1939 a 1945.
LABORATÓRIOS QUE DIRIGIU:
Laboratório Clínico Silva Araujo e Laboratório Barros Terra.
CONCURSOS REALIZADOS:
1920 - Concurso para Prof. de Química Médica do Rio, na atual Faculdade Nacional de Medicina da U.B., sendo habilitado pelo voto unânime da Congregação e obtendo, em 2° escrutínio, 8 votos contra 10 conseguidos por seu competidor. Tornou-se Docente-livre por força desse concurso.
BANCAS EXAMINADORAS DE QUE TOMOU PARTE:
- Exames de 1ª e 2ª épocas das Cadeiras que lecionou;
- Concursos vestibulares nas Faculdades já citadas;
- Comissões de Inquérito: Tomou parte em algumas dentro das Faculdades onde lecionou e mesmo fora delas, como na Escola Nacional de Música, por exemplo;
PROFESSOR EMÉRITO, da Faculdade Fluminense de Medicina.
ACADEMIA, CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, etc.
- Membro Titular e Emérito da Academia Nacional de Medicina, tendo recebido as insígnias das mãos de Miguel Couto, seu ex-professor;
- Membro Honorário da Academia Nacional de Farmácia;
- Membro do Conselho Nacional de Educação em 1936.
TRABALHOS PUBLICADOS:
1. Da 2ª bulha cardíaca (tese de doutoramento);
2. Bioquímica normal e patológica da urina, 1921;
3. Sedimento urinário, 1925;
4. Química Orgânica teórica, ia e 2° edição e reimpressão, 1928 a 1932;
5. Química Orgânica para os cursos complementares, Edição em 1936, e Edição em 1941;
6. Edições complementares: noções elementares de Química para a 5 série ginasial, 1939;
7. Química Orgânica e noções elementares de alguns assuntos de Bioquímica, ia edição, 2 edição (1946 - Editora Científica), edição - I e II volumes, 1952;
8. Revista "Laboratório Clínico": Oxalúria, Sedimento Urinário, Vacinoterapia de Whrith e seus constantes sucessos, Cálculos urinários.
HOMENAGENS RECEBIDAS:
- Paraninfou várias turmas de estudantes da Faculdade Fluminense;
- Paraninfou algumas turmas da Faculdade Nacional de Farmácia;
- Paraninfou uma turma da Escola de Odontologia;
- Homenagens de ex-alunos, no mínimo duas vezes, em São Paulo;
- Placa de bronze na Faculdade Fluminense de Medicina;
- Os estudantes da Faculdade Fluminense de Medicina deram ao seu Diretório Acadêmico o nome de Barros Terra;
- Seu nome também foi dado à Policlínica da Faculdade Fluminense de Medicina, a qual foi construída quando diretor da Faculdade no Governo de Ary Parreiras;
- Um busto de bronze foi feito - homenagem da Faculdade Fluminense de Medicina.
CASAMENTO: em 20 de janeiro de 1906, casou-se com Alice Barreiros, filha do Coronel Vicente Barreiros e D. Rosa Augusta Rodrigues Barreiros, na Cidade de Lorena, Estado de São Paulo. Tiveram oito filhos:
1. Amélia Barreiras de Barros Terra - Professora de Economia Doméstica em Niterói.
2. Antonio Benjamim Barreiras de Barros Terra Professor Catedrático aposentado na Escola de Veterinária, e Prof. Catedrático da Faculdade Fluminense de Medicina.
3. Manoel Barreiras Terra - Contador-Fiel da Caixa Econômica.
4. Rosa Barreiras Terra - Falecida.
5. Vicente Barreiros Terra - Falecido.
6. José Barreiras Terra-Médico Laboratorista da Polícia Militar e atual Diretor do Hospital da Polícia Militar.
7. Carlos Barreiras Terra - Médico do Ministério do Trabalho.
8. Alice Terra Dias D´Assunção - Professora Adjunta das Faculdades Nacional de Farmácia e Nacional de Filosofia.
O Acadêmico ANTONIO DE BARROS TERRA foi eleito Membro Titular da Seção de Ciências Aplicadas à Medicina, em 25 de maio de 1928, com posse no dia 09 de agosto do mesmo ano.
Solicitou transferência para a Classe de Membros Eméritos em 08 de setembro de 1955.
Biografia escrita pelo Acadêmico da João Manuel de Castro.