Augusto Paulino Soares de Souza
Especialidade:
Acadêmico Patrono
Cadeira: 28
Patrono: destinado a Seção de Medicina Cirúrgica
Mini currículo:
AUGUSTO PAULINO SOARES DE SOUZA nasceu em 4 de setembro de 1877 no Rio de Janeiro, estudando no famoso Colégio Anchieta de Nova Friburgo, onde destacou pela sua conduta e aproveitamento, tendo sido considerado mesmo, um ótimo aluno.
Formou-se em medicina na então Faculdade Nacional em 1899 e pouco depois, com muito brilho, defendeu sua tese sobre patologia pleuropulmonar. Dez anos depois, era nomeado professor extraordinário de Anatomia Cirúrgica daquela tradicional Escola, a futura Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, atualmente Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Substituiu na Cátedra o grande Professor Paes Leme. Tanto a Escola cirúrgica de Paes Leme como a de Augusto Paulino se caracterizaram pelo grande respeito à vida dos doentes numa época em que predominavam a audácia e o super entusiasmo pela técnica cirúrgica.
Homem modesto, de coração magnânimo, aconselhava a seus alunos que também frequentassem as aulas do seu maior competidor na Cátedra e na Clínica, o Professor Brandão Filho.
Na Clínica Cirúrgica o Professor Augusto Paulino não passou simplesmente pela Cátedra, mas "fez escola", marcou época. Teve ainda grande previsão da cirurgia do futuro, comentando, em suas aulas, quase todos os progressos que ocorreram vinte a trinta anos depois de sua morte.
Augusto Paulino revelou, desde o início de sua carreira, o mestre completo que logo se imporia aos alunos, como verdadeiro orientador dos moços, por sua palavra fácil, sem arroubos de oratória, erudita, convincente e, sobretudo, porque suas lições magistrais eram acompanhadas de belos desenhos coloridos que pintava no quadro negro, demonstrando assim que nele se juntavam o sábio e o artista.
É creditada a Augusto Paulino, mesmo sem ser ainda detentor de uma Cátedra, a coragem de se rebelar contra o ensino oficial e clássico, num Curso Equiparado, no qual deu nova orientação ao estudo da Anatomia e da Técnica Operatória, transformando os trabalhos ditos práticos, em sugestivas demonstrações no cadáver, com treinamento das mais modernas técnicas e conhecimento dos princípios e normas básicas da cirurgia moderna.
Dedicou toda a sua vida ao ensino e à assistência aos enfermos, lecionando desde 1901 até 1951. Desse longo magistério de meio século, data a elaboração de suas obras científicas, 16 ao todo, dentre as quais destacamos apenas algumas: Lições de Clínica Cirúrgica, um volume; Cirurgia para o Clínico, um volume; Patologia Cirúrgica, três volumes; Cirurgia de Urgência, um volume; Diagnóstico Cirúrgico, um volume; Manual de Cirurgia Prática, dois volumes.
Médico integralmente brasileiro, teve todo seu invulgar saber acumulado no Brasil, sem nunca ter saído ao estrangeiro. Vida metódica, aprendera a preciosíssima arte de aproveitar bem cada minuto do seu tempo. Foi detentor de três das maiores honrarias que um profissional pode alcançar: Professor Catedrático Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, Professor Catedrático e Diretor da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e Membro Titular do "American College of Surgeons".
Unindo aos de profissional, os dotes ainda mais excelentes de cristão, o professor Augusto Paulino celebrizou-se no Rio de Janeiro na décima quinta Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, onde prodigalizou requintes de atenção e carinho aos doentes. Era notável no Doutor Augusto Paulino o cuidado com seus doentes. Aí revelava seu grande coração paternal transbordar de bondade e caridade para com todos, que seu coração, forjado segundo o modelo de Cristo, havia compreendido todas as dimensões e grandeza do maior dos mandamentos.
Como cristão, era dotado de vasta cultura religiosa, Católico praticante, rigorosamente ortodoxo, dedicava-se com verdadeira paixão à leitura de livros de formação religiosa e obras especializadas de moral, teologia, de ascética. Lia, apreciava e meditava as biografias de Santos e Servos de Deus.
Foi congregado mariano desde os tempos de colégio, mantendo assim uma linha raramente seguida por homens de sua classe; seja como aluno em Nova Friburgo, ou do Santo Inácio do Rio, seja como catedrático, sempre era pontual e fidelíssimo às reuniões e obrigações da Congregação e do Catolicismo; por isso, quando em 1937 se fundou a Confederação Nacional das Congregações, foi seu primeiro presidente por indicação do então Cardeal Dom Leme, e no cargo permaneceu com entusiasmo e total eficiência até 1947.
Altamente apreciado como Catedrático e como cirurgião, exercia magnífico apostolado com seu bom exemplo; sua formação religiosa era tão profunda que citava, com o maior desembaraço, os Santos Padres, até nos improvisos.
Uma de suas mais sinceras alegrias consistia em poder comprovar a perfeita concordância da doutrina cristã, com as mais delicadas questões da medicina, com a ciência, e isso até as mais recentes descobertas.
O doutor Paulino podia ser citado e visto como verdadeiro modelo de apóstolo militante. Não perdia ensejo para fazer ação católica, seja por sua palavra na Cátedra, por ação, como professor e médico, ou seu trato particular, animando, consolando, estimulando, orientando mediante sua palavra instrutiva e seus conselhos sábios, seja enfim, pela colaboração, trabalho e iniciativa em grandes obras sociais.
Pelo seu caráter e retidão, era o Professor Augusto Paulino um dos examinadores mais procurados para as Bancas de Concurso, em atenção à sua rara competência e sua integridade moral. Justiça e caridade foram suas duas grandes linhas, as normas que sempre orientaram sua conduta.
Homem de poucas palavras com os doentes, o Dr. Paulino teve uma grande clínica particular, celebrizou-se no Rio de Janeiro onde prodigalizou requintes de atenção e de carinho aos pacientes, não os diferenciando com os da Santa Casa de Misericórdia. Para todos, indistintamente, o mesmo tratamento, a mesma conduta, a mesma técnica.
Foi Augusto Paulino uma das grandes figuras de mestre, pelo saber, pela dignidade, pela inteligência, pelo trabalho, pela justiça, pela doçura. Ao jubilar-se, teve o reconhecimento e orgulho de ver, o fato de ter logrado a fortuna de poder espalhar, pelo Brasil, em dez lustros de exercício na Cátedra, vinte mil discípulos que hoje honram a Escola de Cirurgia fundada pelo grande Paes Leme, e de quem foi o brilhante continuador.
Nada poderia ser comparado, porém, com a glória, que lhe cabe, de haver plasmado, com o exemplo de sua vida modelar de mestre e de homem, duas personalidades cirúrgicas consideradas pela classe médica brasileira, como expoentes máximos: Augusto Paulino Filho e Fernando Paulino. Continuadores de sua obra, além do muito que contribuíram para a cirurgia brasileira, também herdaram seus dotes morais e os rígidos princípios, que sempre ditaram a sua vida. Contemporâneos e admiradores do Hospital Pronto Socorro, hoje Hospital "Souza Aguiar" e na Casa de Saúde São Miguel, respectivamente, assistimos a demonstração.
Tive o privilégio de curto convívio com Augusto Paulino Filho no então Hospital de Pronto Socorro, o "Souza Aguiar", e com Fernando Paulino em sua incomparável Clínica, a Casa de Saúde São Miguel. Hoje, com orgulho posso citar aos meus ilustres pares e divulgar para os mais jovens, o testemunho da excelência da conduta e rigidez do caráter de seus filhos: Augusto Paulino Filho demitiu-se da Cátedra que havia ganho por concurso, na Escola de Medicina e Cirurgia, por não compactuar com a formação de Banca Examinadora para seleção de Professor, enquanto Fernando Paulino, anos antes, demitia-se dos cargos de Diretor e Chefe de Serviço de Hospital Público e até da função de médico da então Prefeitura do Distrito Federal, por não admitir a intromissão e imposição política de internar-se um doente num serviço de cirurgia, sem que nada tivesse para tratamento operatório.
O Prof. Augusto Paulino concluiu seu discurso de paraninfo da Última turma de doutorandos da Escola Hahnemaniana, com estas belas, tranquilas e emocionantes palavras: - Meus jovens colegas, chegou a hora de minha despedida da vida pública. Meio século de dedicação e de sacrifícios ao magistério e à prática da cirurgia. Terminei minha carreira. Combati o bom combate. Conservei a minha fé. Espero tranquilo o dia das contas finais. Nada receio e tudo espero da misericórdia divina. Felizes os bem aventurados, os que morrem com a consciência tranquila de terem cumprido, até o fim, com seus deveres: "Beati mortui qui in Domino moriuntur".
O Prof. Augusto Paulino sucumbiu aos 84 anos de idade, a 08 de março de 1962, com seu neto, o Augustinho, como carinhosamente o chamávamos no Hospital Souza Aguiar, já despontando para garantir a continuidade da permanência dos "Paulinos" na cirurgia brasileira.
Biografia escrita pelo Acadêmico Jairo Pombo do Amaral