Pedro da Cunha




Pedro da Cunha

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Acadêmico Patrono

Cadeira: 24

Patrono:


Mini currículo:

PEDRO DA CUNHA, antigo Professor de Clínica Médica da Faculdade Fluminense de Medicina, nasceu na cidade de Belém (Pará), a 2 de março de 1885.

No Liceu Paraense, fez o curso secundário. Vindo para o Rio de Janeiro, matriculou-se na Faculdade Nacional de Medicina. Em 1908 defendeu tese de doutorado - "Ensaios de hematologia na forma ictérica da ancilostomíase". Clínico por vocação, na Faculdade Fluminense de Medicina ensinou a várias gerações de médicos, sendo conhecido na gíria estudantil como "Pedrão". Olavo Correia de Lima, seu discípulo, refere que Pedro da Cunha possuía grande cultura médica - teórica e prática. Aluno da Faculdade Nacional de Medicina, seus professores mais diletos foram Chapot-Prévost e Miguel Pereira. Este foi para ele o mestre nunca esquecido, o mago da palavra sábia. Sua palavra ática, ricamente adjetivada, clareava os assuntos mais intrincados, fazendo do difícil o fácil, transmudando em simples, os mais complexos problemas clínicos.

Para Pedro da Cunha todos os hospitais deveriam servir ao ensino. A primeira função do hospital é cuidar do doente; a segunda, do ensino e a terceira, da investigação. Desempenhando esta tríplice função, o hospital trabalha na comunidade e para a comunidade.

Em um de seus discursos, como paraninfo de uma turma de médicos diplomados pela Faculdade Fluminense de Medicina, o Prof. Pedro da Cunha fez dura crítica, das mais construtivas, ao ensino médico do país. Dois pontos devem ser destacados nessa oração, em que um saber de experiências se alia à visão do sociólogo para uma crítica desassombrada, percuciente e construtiva. Referia-se Pedro da Cunha à crescente estatização da profissão médica e à decadência do ensino médico em muitas de nossas Faculdades. No tocante à primeira, encarecendo embora a necessidade de uma cooperação leal e decidida entre os médicos e o Estado, para a resolução dos grandes problemas de assistência, assinala o ilustre professor os males resultantes de uma socialização mal compreendida que transforma os médicos em servidores do Estado e lhes rouba a liberdade de agir e interpretar, desaparecendo assim a Medicina tradicional. Devem os médicos defender tanto quanto possível a dignidade profissional e a liberdade individual de modo a que exerçam a medicina de sã consciência e sem intervenção estranha. Propugnava Pedro da Cunha por urna reforma do ensino médico em bases mais realísticas e utilitárias.

Pedro da Cunha nunca dava aulas em anfiteatros. Realizava-as nas próprias enfermarias, sentado desconfortavelmente numa cadeira de ferro, ele que era alto e corpulento. Geralmente chamava um discípulo para com ele discutir e examinar o caso clínico. Registra Olavo Correia Lima que os dedos de Pedro da Cunha percutiam tão bem um coração que a radiografia apenas lhe vinha superpor ao traçado do seu lápis demográfico; o eletrocardiograma se limitava a confirmar ou particularizar o tipo de arritmia ou de bloqueio que o seu precioso ouvido diagnosticava. Os seus dedos mais palpavam que percutiam. "Tudo depende do treino, meu filho, como toda a arte! É preciso aprender a ver, palpar, percutir e até cheirar. Só o doente ensina isto e não o laboratório. Este é um precioso auxiliar, quando orientado pelo senso clínico, pelo exame do doente."

Era um semiologista admirável. Confiava mais nos seus sentidos que nos exames de laboratório. O papel do laboratório, ensinava ele, é "tirar dúvidas". Criticava acerbamente a medicina americana, escandalosamente mecanizada. Não havia moléstias locais, dizia ele, senão localizações de um transtorno mórbido de toda a economia. Esta orientação helênica, que em tempo algum a medicina jamais poderá abandonar nem desorientar-se, com prejuízo da saúde e da vida, era a argamassa de todo o seu ensino teórico e prático. Não havia para ele, doente sem interesse. Era uma questão examinar, raciocinar, numa palavra, ser médico.

Clínico por vocação, com grande cultura humanística, Pedro da Cunha honrou a medicina pátria, fazendo-se credor da nossa admiração e da nossa estima.


Biografia escrita pelo Acadêmico Herbert Praxedes

  

Matéria do Jornal O Globo noticiando sua morte em 1959
 


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