João Benjamin Ferreira Baptista
Especialidade:
Acadêmico Patrono
Cadeira: 11
Patrono: destinado a Seção de Medicina Clínica
Mini currículo:
Filho único do casal Benjamim Rodrigo Baptista e Ana Benedicta Ferreira Baptista, o pai, herói da Guerra do Paraguai, faleceu em consequência de ferimentos adquiridos em combate. Em toda sua infância e juventude foi guiado, orientado e protegido por sua extremosa mãe.
Segundo Emmanuel de Macedo Soares, em seu livro "Figuras e Fatos da Medicina em Niterói", o pequeno João fez seus primeiros estudos, completando o curso secundário, no Colégio Guilherme Briggs e no Liceu Popular Niteroiense. Terminou o Curso de Humanidades na cidade do Rio de Janeiro, com os monges do Mosteiro de São Bento.
Embora sempre acalentasse o sonho de ser médico, matriculou-se no Curso de Farmácia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, devido a dificuldades financeiras. Diplomando-se em 1888, com 19 anos, logo começou a trabalhar na Farmácia Meireles Coelho, no bairro do Fonseca, em Niterói. Com os recursos resultantes de ser labor, retomou os estudos conquistando o diploma de médico em 1895, aos 25 anos, defendendo a tese Cura Radical da Hérnia Inguinal, sendo aprovado com distinção.
Já antes de se formar médico, ingressou, como interno concursado, em seis de dezembro de 1890, no Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro onde galgou sucessivos postos, até alcançar o cobiçado lugar de interno de 1ª classe, residente na Santa Casa. Pode, então, abandonar o emprego na farmácia e dedicar-se inteiramente à cirurgia na 14ª Enfermaria onde, segundo o eminente médico e historiador Carlos Wehrs, sob a orientação do Chefe, Prof. Marcos Bezerra Cavalcanti e do adjunto Prof. Augusto Brant Paes Leme, houve-se com brilhantismo, obtendo excelente ascensão profissional.
Ainda antes de se diplomar médico prestou inestimável colaboração à 5ª Enfermaria da Santa Casa, já então dirigida pelo Prof. Paes Leme, quando da Revolta da Armada em 1893, recebendo e tratando os feridos em combate. Por essa atuação foi elogiado pelo então Procurador Conselheiro Paulino Soares de Souza, e o Marechal Floriano Peixoto manifestou o desejo de homenageá-lo com as insígnias de 1º Tenente-Médico Honorário do Exército. O jovem João Benjamim Ferreira Baptista, cortesmente, agradeceu e recusou a distinção, alegando haver apenas cumprindo seu dever de médico e cidadão.
Após o Doutoramento em Medicina, em sete de janeiro de 1895, foi nomeado médico adjunto da Santa Casa, em nove de março de 1895, trabalhando na 3ª Enfermaria, sob a direção do Dr. Pinto Portela e, posteriormente, na 18ª Enfermaria, dirigida já pelo Prof. Paes Leme, até 1911. Também após a formatura voltou a trabalhar como médico em Niterói, na Farmácia Imperial, situada à Rua Gavião Peixoto.
Em sua fase inicial na Santa Casa de Misericódia do Rio de Janeiro, conheceu a Srta. Ida Vinelli, filha do Prof. João Baptista Kossuth Vinelli - Catedrático de Fisiologia e precursor, no Brasil, da Fisiologia Experimental - e de Maria Emília Leal Vinelli. Com ela logo se casou e do enlace nasceram dois filhos: Maria Baptista (Xavier) e Benjamim Vinelli Baptista.
A carreira de anatomista foi oficialmente iniciada em 23 de abril de 1896 com nomeação para preparador de Anatomia Descritiva, após aprovação em concurso, cargo equivalente à Livre Docência atualmente. O Catedrático, na época, era o Prof. Ernesto de Freitas Crissiuma.
Entretanto, antes dessa nomeação já desenvolvia intensa atividade no "Instituto Anatômico" da Santa Luzia, ministrando cursos livres de anatomia que tinham grande procura. Posteriormente, em 14 de abril de 1899, foi designado para exercer, também, a função de preparador da Cadeira de Anatomia Médico-Cirúrgica, sob a chefia do Professor Paes Leme e, logo a seguir (23/04/1899), atua identicamente na Cadeira de Histologia. Em primeiro de agosto de 1900 foi nomeado Professor Substituto Interino de Anatomia Descritiva e em 28 de agosto de 1902 passou a reger os cursos de Anatomia Descritiva e Médico-Cirúrgica da Boca para o 1º ano de Obstetrícia e 2º ano de Odontologia. A convite do Diretor da Faculdade Nacional de Medicina, Professor Feijó Júnior, incumbiu-se, em 26 de março de 1906, juntamente com os professores Chapot Prevost e Domingos Góes, de regulamentar o serviço de Distribuição de Cadáveres para o estudo da Anatomia. Nessa época já era Membro Titular da Academia Nacional de Medicina onde fora empossado, sob a presidência do Acadêmico Antônio José Pereira da Silva Araújo, em 14 de outubro de 1897, com três anos incompletos de formado e 28 anos de idade.
Em 1909 administrava o curso de Histologia Dentária e em 1910, já diplomado também em Odontologia, foi nomeado Professor de Anatomia da Escola Livre de Odontologia do Rio de Janeiro. Homem dinâmico e excelente administrador, foi nomeado, em seis de abril de 1911, Professor Extraordinário Efetivo da Cadeira de Anatomia Descritiva da Faculdade Nacional de Medicina, assumindo a sua regência nas ausências do Titular. Nesse mesmo ano, em 18 de agosto, é nomeado para participar de Comissão do Governo para estudar a instalação de Institutos de Anatomia, visitando instituições na Europa. De 1916 a 1921 regeu a primeira parte da Cadeira de Anatomia e os Cursos de Odontologia e Obstetrícia.
Foi nomeado Médico Efetivo do Hospital Geral da Santa Casa em 22 de abril de 1917, cargo que exerceu até a sua morte, quando foi substituído pelo não menos ilustre, honrado e competente filho Professor Benjamin Vinelli Baptista.
Como professor, organizou o Museu Anatômico da Faculdade de Medicina com peças por ele preparadas. Nomeado em 29 de junho de 1921, tomou posse em cinco de julho do mesmo ano como Professor Catedrático de Anatomia Médico-Cirúrgica, Operações e Aparelhos que, algum tempo após, passou a ser denominada Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. Devido ao seu espírito criativo, empreendedor e capacidade de trabalho, introduziu grandes modificações na Cadeira, com um serviço modelar de Cirurgia Experimental, o primeiro no Brasil, por isso sendo considerado o criador do ensino oficial de Cirurgia Experimental. Esse laboratório tornou-se um centro de pesquisa, formando uma plêiade de grandes cirurgiões, razão pela qual recebeu o seu nome.
Em oito de maio de 1925 foi nomeado Diretor do Instituto de Anatomia da Faculdade Nacional de Medicina, onde formou inúmeros anatomistas de renome.
Segundo o Professor Luiz Carlos de Sá Fortes Pinheiro, em seu discurso de posse na Cadeira 25 da Academia Nacional de Medicina, o Professor Benjamim Baptista permanecia no velho Instituto Anatômico de 8 horas da manhã às 5 horas da tarde, diariamente, em dissecções com seus alunos, podendo ser considerado o verdadeiro precursor do tempo integral no Magistério Superior.
O eminente psiquiatra Prof. Neves Manta, em seu livro de memórias "A folha e o vento", recorda-se que, pelos idos de 1923, então jovem aluno do Prof. Benjamim Baptista, ouvia-lhe a terna e rouquenha indagação - "Quer dissecar, meu filho?" E não havia aluno que resistisse ao convite, trocando seus folguedos, suas horas de lazer, pelo prazer de estar e estudar com o Mestre. Um exemplo ontem, hoje e sempre.
No pátio secular do Instituto Anatômico da Santa Luzia seus amigos e seguidores fizeram erigir uma herma com sua figura respeitável, como símbolo da cultura anatômica brasileira segundo o Prof. Carlos da Silva Lacaz.
E Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro criou, em 25 de janeiro de 1932, a Cadeira de Anatomia Médico Cirúrgica e entregou seus regência ao grande Mestre.
O Colégio Anatômico da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, hoje UNIRIO, passou a denominar-se Centro Acadêmico Benjamim Baptista, em 1962. É também patrono da Sociedade Acadêmica do Recife, do Centro de Estudos Anatômicos, da Cadeira 25 da Academia Nacional de Medicina e da Cadeira 11 da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Academia Fluminense de Medicina). Foi Membro Titular da Academia Nacional de Medicina, do Colégio Americano de Cirurgiões, da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Niterói e da Sociedade Anatômica Luso-Hispano-Americana.
Foi ainda fundador do Comité Internacional de Recherches sur les Parties Molles e homenageado por várias turmas de Doutorandos em Medicina.
De acordo com seu nobre filho e seguidor, Benjamim Vinelli Baptista, e o conceituado médico e historiador Carlos Wehrs, a produção científica do Prof. Benjamim Baptista foi numerosa, diversificada e profunda. Algumas principais e mais marcantes podem ser citadas: