Osvaldo Luis Cardoso de Melo




Osvaldo Luis Cardoso de Melo

Especialidade:

Acadêmico Patrono

Cadeira: 46


Mini currículo:

Fui duplamente honrado quando, tendo sido lembrado o nome de meu pai para patrono de uma Cadeira nesta Academia, foi-me dado o privilégio de ser o seu primeiro ocupante.

Para os que julgam por padrões impessoais, Osvaldo Luis Cardoso de Melo foi o médico excepcional, merecedor de ser o patrono da Cadeira 46 neste sodalício. A isto ele se recomendou por um conjunto de atributos que o fizeram realmente um expoente na Classe: a honestidade impoluta, a dedicação total, a competência atualizada e excepcional, a inteligência brilhante e a liderança inconteste. Para os descendentes e amigos que o recordamos e o vemos como o pai extremoso, como o amigo dedicado, era o cidadão prestante, o patriota exaltado, o idealista criador, o exemplo por atitudes.

Exatamente ontem, reverenciávamos a sua memória, passados onze anos de seu falecimento a 12 de setembro de 1968. Hoje, exacerba-se neste momento o sentimento de sua presença, que tenho procurado cultivar por todas as horas de minha vida no culto de seu exemplo.

Não importa, Senhores, que a emoção me embargue a voz. Até lágrimas poderão correr; lágrimas viris, essas lágrimas de homem, que não desonram "porque são ondas de saudade a subir do coração", no dizer de Moniz de Aragão.

Como filho, afinal agradeço; como Acadêmico, devo fazer o elogio do meu Patrono.

Não é fácil, Senhores, fazer-se o elogio do próprio pai. Por isto, socorrer-me-ei, por vezes, do que sobre Osvaldo Luis Cardoso de Melo foi dito ou escrito por outrem.

Há onze anos atrás, no dia 13 de setembro de 1968, assim escrevia, sob o título UM NOBRE E ALTO VEGETAL HUMANO, o saudoso jornalista Oswaldo Lima, então Diretor-Presidente do MONITOR CAMPISTA, mais velho Órgão da imprensa de Campos e terceiro em antiguidade no Brasil:

"Todos desejávamos que um milagre, colocando-se acima de todas as crenças e convicções científicas, salvasse Osvaldo Luis Cardoso de Melo, como expressão de uma dádiva de Deus. Porque ele era um dos mais altos e nobres vegetais da velha paisagem humana campista que vai desaparecendo. Todas as manhãs, durante os meses em que a sua doença foi a preocupação de toda a cidade, centenas, milhares, dezenas de milhares de bocas se abriam pressurosas para saber do seu estado, quase num sussurro, no indisfarçável medo das respostas negativas. Nessa alternativa de otimismo e desânimo viveu toda uma população, a qual, se nos prélios eleitorais não lhe dera todos os sufrágios, como não poderia democraticamente acontecer, agora erguia, toda ela, um voto sincero e ardente no sentido do seu restabelecimento.

Ainda na enfermidade prestava, assim, o Sr. Cardoso de Melo, um grande serviço a Campos, e notadamente aos moços, fazendo-os ver que homens vaiem menos pela soma de votos acumulados nas urnas, pelos postos a que ascendem, do que pela influência que possam exercer por seu exemplo de dignidade, trabalho e desprendido amor à causa pública.

Pois ele, fora da política que só o desencantara, entregue ao labor diário de seu consultório e aos estudos e leituras em seu escritório, em casa, andando a pé pelas ruas para melhor senti-las, dava a impressão de haver conquistado a unanimidade da admiração e da estima de seus conterrâneos. Na atividade partidária, limitava-se. Tinha de ser contra ou a favor. Ao passo que, fora dos partidos, podia ser, como o foi, o mais seguro depositário da confiança de todo um povo.

Os anos, a conduta, o desprezo a conveniências meramente pessoais, se incumbiram de mostrar a Campos e ao Estado do Rio a peça moralmente inteiriça que ele era. o aço inflexível em que se moldara o seu caráter. Conhecê-lo de perto era travar conhecimento e intimidade com um dos mais exuberantes espíritos que já tem produzido esta planície de altivez e de doçuras, com um filho autêntico do massapê canavieiro e herdeiro das melhores tradições de bravura de nossa gente. Se tem havido campistas telúricos, cem por cento, Cardoso de Melo era um deles. E confessava, como ainda no último e mais demorado encontro que tivemos, uma tarde de domingo: "Fazemos restrições a Campos da boca para fora. Mas, quando falamos ao próprio coração, sentimos que eia é a melhor terra do mundo. Não há nada igual".

Houve quem me perguntasse ontem o que se deveria fazer para se homenagear a sua memória. Respondi: - Tudo. Por o comércio a meias portas, suspender aulas, hastear bandeiras em funeral, tomar luto, tudo.

Porque Cardoso de Melo esteve em tudo. Fez a Campos uma doação que nenhum rico poderia fazer com todos os seus dinheiros. Deu-se Campos enfim, fazendo a menos rendosa das medicinas, pois tanto tinha de sagrado o compromisso com relação à Santa Casa como transformava em gratuidades a maioria das consultas em sua clínica particular.

Há árvores que morrem de pé porque a mão dos homens não tem a coragem de mover-se para abatê-las. Muda o cenário em tomo e elas continuam. Não incomodam. Não afeiam. Pelo contrário, embelezam. E são alvo de uma espécie de culto. A sua sombra se sentam e se abrigam gerações e gerações. Assim era o Sr. Cardoso de Melo, sempre adaptado e receptivo em relação às transformações do plano intelectual.

Há homens que, vivendo na província, têm tudo de nacional e metropolitano, pela amplitude das ideias e elevação e largueza dos gestos, em contraposição a outros que, vivendo na metrópole, não passam de pobres e atrasados provincianos.

O Sr. Cardoso de Melo estava no primeiro caso. E, no próprio traje, na elegância discreta com que se vestia, afirmava as qualidades que acabaram por impô-lo como modelo, como perfeito símbolo do homem público e do homem de bem, que ele o foi acima de tudo e de quaisquer circunstâncias".

Assim iniciava o Deputado João Rodrigues de Oliveira - cuja presença aqui muito me honra - o elogio fúnebre de Osvaldo Luis Cardoso de Melo, na Sessão Extraordinária da Assembleia Legislativa do antigo Estado do Rio de Janeiro, no dia 26 de setembro de 1968, em homenagem à sua memória

"A 12 de setembro corrente, consumou-se afinal o que toda gente sabia inevitável mas insistia, com preces ao Criador, que não acontecesse. E a sua cidade, aquela que amou mais que à própria vida, e que tantas vezes lhe fora ingrata, cobria-se de dor e de lágrimas, de luto e de pesar - integralmente, totalmente - como se de cada lar, humilde ou abastado, a morte houvesse arrancado um pedaço do coração! Somente agora e depois que, por mais de dez lustros de obstinado desprezo a conveniências pessoais, de ininterrupta intransigência com o vazio, o inautêntico, o impuro, o falso, o medíocre; somente agora muita gente reconhecia e se penitenciava, diante daquela peça inteiriça, forjada do mais puro aço de Toledo, que jamais suportava ver, no sufrágio universal da república das plantas, as urtigas desterrarem as rosas e os lírios; que chegava às portas da indignação quando verificava, como Graf, que a política se transformara, na arte de mandar adiante, de braço dado, a verdade e a mentira, de modo que, vendo-as passar, não se saiba qual é a mentira, qual é a verdade".

Osvaldo Luis Cardoso de Melo, filho do Dr. Luis Cardoso de Melo e de D. Francisca Batista Cardoso de Melo, nasceu em 12 de março de 1897, na antiga Vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes; antes, Campos de Goitacás e, hoje, Campos dos Goytacazes - "com plural duplo mesmo" - acentua João Rodrigues de Oliveira, "em virtude da Lei Provincial n° 6 de 28 de março de 1835. Seu pai, igualmente médico, legara-lhe, com o sacrifício da própria vida, o imenso, indestrutível amor que, como homem, como político e como médico, haveria de dedicar sempre ao seu próximo. O Dr. Luis Cardoso de Melo tem o nome inscrito nos fastos camposinos, ao lado de Lacerda Sobrinho e Silva Tavares, como um dos mártires da ciência no combate à peste bubônica, em 1906. Transmitia também, ao seu filho, o seu traço mais característico - a elegância. Elegância na profissão como em tudo o mais, inclusive no escrever, no falar e no vestir".

A respeito de Dr. Luis Cardoso de Melo, conta Ary Vianna: "Ele era um grande humanista, versado nos clássicos, conhecedor do grego e do latim. Musicista de apurada sensibilidade tocava violino e, na sua juventude, fora conhecido dedilhador de violão, fazendo época as modinhas que cantava com o acompanhamento desse instrumento".

"Luis Cardoso de Melo, continua Ary Vianna, desfrutara de justa simpatia no seio da classe médica de Campos, tendo sido eleito presidente da Sociedade Médico-Farmacêutica e Beneficente, fundada em 26 de novembro de 1878 e que, embora com períodos, ora de atividade, ora de marasmo, foi incontestavelmente a precursora da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, a mais antiga sociedade médica da Velha Província do Rio de Janeiro, de cuja já Diretoria, presidida por Ignácio de Moura, Osvaldo Luis Cardoso de Melo fora o 10 Secretário".

A Ary Vianna, narrou Admardo Torres, amigo e admirador de Luis Cardoso de Melo, que este, em suas visitas ao "Bon Marché", quase sempre se fazia acompanhar de um seu filho, então pequenino. Em suas palestras, transpareciam a confiança e a esperança que depositava no futuro de seu filho.

"Hoje, dizia Ary Vianna em 1939 na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, passados 33 longos anos, vemos que seu vaticínio e suas esperanças se realizaram. Os seus sonhos de pai amantíssimo se concretizaram. Vemos seu pequenino filho hoje transformado na figura ilustre de Osvaldo Luis Cardoso de Melo, presidente desta casa, expoente da medicina campista, cuja cultura, inteligência e eloquência tanto elevam o nome de Campos e cuja conduta retilínea representa uma das grandes reservas morais do patrimônio fluminense. O exemplo admirável de dignidade humana deixado por Luis Cardoso de Melo - conclui Ary Vianna - transferiu-se a Osvaldo Luis Cardoso de Melo como sendo uma vida o prolongamento da outra."

Osvaldo Luis Cardoso de Melo fez o seu curso Primário no Colégio Paraíso, dirigido pela Professora Maria Ribeiro Paraíso e o Secundário no Liceu de Humanidades de Campos, de onde, antes dele, o inolvidável Nilo Peçanha saíra para a Presidência da República. Em 1911, quando cursava o 4º ano do Liceu, foi decretada a chamada "Lei Orgânica do Ensino", de autoria do então Ministro dos Negócios do interior e Justiça, Dr. Rivadávia da Cunha Correa, Lei que extinguiu o antigo curso seriado de "Bacharel em Ciências e Letras", estabelecendo o Exame de Admissão ás Faculdades de Ensino Superior. Em 1914 submeteu-se Osvaldo Luis  Cardoso de Melo ao referido exame, sendo aprovado e matriculado na primeira série da antiga Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, cujo curso terminou em dezembro de 1919, na primeira turma que se formou no então novo prédio da Praia Vermelha, demolido durante o obscurantismo dos governos militares da época, atestando a desídia daqueles governantes dos anos 70 pela conservação de nosso patrimônio histórico.

Pobre e de família modesta, órfão de pai aos nove anos e de mãe aos quinze, Osvaldo Luis Cardoso de Melo teve que lutar bastante para chegar a ser médico. Mas, nada obstante, graduou-se com as melhores notas.

Em 13 de agosto de 1915, foi admitido como "Interno Extranumerário" no Hospital Central do Exército e, em 1° de janeiro de 1918, nomeado "Interno Efetivo", sendo demitido a 31 de dezembro de 1919, por haver concluído o curso médico.

Sua Tese de Doutoramento versava sobre "Estudo Clínico e Terapêutico dos Traumatismos da Medula Espinhal e suas Complicações". Defendida em 23 de março de 1920, foi examinado pelos Professores Fernando Magalhães, Nascimento Gurgel e Figueiredo Baiena, tendo sido aprovada com DISTINÇÃO.

No dia 5 de abril de 1920 iniciou a sua Clínica em Campos, tendo logo oferecido seus serviços à Santa Casa de Misericórdia de Campos, sendo a ela admitido no dia 15 de maio de 1920, pelo Provedor de então, Dr. Arthur Emiliano Costa, como "suplente dos substitutos gerais", sendo-lhe confiado o tratamento das mulheres, o qual era feito em enfermaria geral, porquanto o hospital nada possuía para exames e tratamento das doenças dos olhos, ouvidos, nariz e garganta. A Sociedade Portuguesa de Beneficência fez igual oferecimento, também aceito, sendo os pacientes atendidos em seu consultório, visto que também a Beneficência nada possuía para atender aos doentes daquelas especialidades.

Em 1921, é fundada, no dia 24 de janeiro, a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, sendo ele um dos sócios fundadores e tendo sido eleito 1° Secretário de sua primeira Diretoria, presidida pela grande figura de médico humanitário que foi lgnácio de Moura. Ocupou por duas vezes a 2ª Secretaria, e a Vice-Presidência, em 1928 e 1929. Em 1936, Osvaldo Luis Cardoso de Melo foi eleito Presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, cargo que desempenhou durante cinco anos. Em 1960, foi novamente eleito Presidente e mantido no cargo, por reeleições, por mais cinco anos. Fez parte da comissão que construiu a Policlínica Admardo Torres, edifício em que a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia tem a sua sede. Inaugurada a Policlínica, em janeiro de 1926, Osvaldo Luis Cardoso de Melo nela instalou o primeiro Serviço de Oftalmologia e Otorrinolaringologia que teve a cidade de Campos, cujo ambulatório foi montado com verba que conseguiu da Comissão Pró- Flagelados da enchente de 1924 do Rio Paraíba do Sul, já que tivera conhecimento de haver um saldo das importâncias doadas para aquele fim. Chefiou esse Serviço até o ano de 1932 e foi Diretor da Policlínica durante os anos de 1928 e 1929. Em 1936, voltou a chefiar o Serviço de Oftalmo-Otorrinolaringologia da Policlínica e o fez até janeiro de 1941.

Em 1926, já com o encargo de todo o Serviço de Olhos, Ouvidos, Nariz e Garganta da Santa Casa de Misericórdia de Campos conseguiu que fosse criada uma enfermaria para homens e, só muito mais tarde, quando a Santa Casa se instalou no novo edifício, foi possível a criação de duas enfermarias para doentes de ambos os sexos, sala de cirurgia, sala de curativos e ambulatórios. Tal serviço foi por ele regularmente atendido até não mais poder sair de casa, tendo-o chefiado até a sua morte.

Em 1935, foi nomeado Médico Efetivo do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência, quando conseguiu da Diretoria de então a instalação de um Serviço de Oftalmologia e Otorrinolaringologia, cuja chefia exerceu até o ano de 1963, quando entrou em licença, mantendo aquele Hospital, até o seu falecimento, o seu nome como Chefe do Serviço.

Em 1939, ajudou a fundar a Associação de Proteção à Infância de Campos, da qual foi Presidente no período de 1942 a 1943.

Foi Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Membro Correspondente da Academia Brasileira de Medicina Militar e Sócio Efetivo da Associação Médica Fluminense, da qual foi 2° Vice-Presidente no período de 1962 a 1963.

Foi orador da sessão inaugural do I Congresso Médico do Estado do Rio de Janeiro, reunido em Niterói de 12 a 18 de outubro de 1940, e orador da sessão inaugural do II Congresso Médico do Estado do Rio de Janeiro, reunido em Campos de 12 a 18 de outubro de 1946. Fez parte da comissão que organizou a 1ª Semana médica de Campos, em julho de 1931, comemorativa do 10° aniversário da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, tendo apresentado o trabalho "Epidemiologia e Profilaxia do Tracoma em Campos", cujas conclusões foram unanimemente aprovadas. Fez parte da comissão nomeada por essa Sociedade para estudar e dar parecer sobre "Prática dos Esportes", constituída ainda pelo Dr. Antônio Bastos Tavares e pelos Professores Garcia Júnior e Alberto José Sampaio. Sendo escolhido relator, teve o seu relatório aprovação unânime dos membros da comissão, tendo sido aprovado por grande maioria dos membros presentes à sessão em que foi debatido.

Em 1961, sob sua presidência, realizou-se a 2ª Semana Médica de Campos, comemorativa do 40° aniversário da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia.

Como Presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, Osvaldo Luis Cardoso de Melo, nos diversos mandatos que exerceu, dirigiu saudações aos Professores Raul David de Sanson, Hugo Pinheiro Guimarães, Joaquim Pereira da Mota, Abdon Lins, Heitor Carrilho, Vilela Pedras, Raul Leitão da Cunha, Benedito Montenegro, Otávio Rodrigues Lima, Rinaldo Delamare, Cesar Perneta, Pedro Nava, Rúbem Amarante, Paulo Cesar Pimentel e Ivo Pitanguy e aos Doutores Carlos da Silva Araujo, Décio Parreiras, Pedro Pernambuco e ao General Dr. Luiz Paulino de Melo. Fez o elogio fúnebre dos Doutores Ramiro Braga, Gabriel de Andrade, João Pache Faria, Antônio Bastos Tavares e Nonval Santos, dos Professores Alvaro de Barros, José Antônio de Abreu Fialho, Afrânio Peixoto, Fernando Magalhães, Aloysio de Castro e Raul David de Sanson e de seu grande amigo e companheiro desde os bancos do Liceó de Humanidades de Campos, Amador Pinheiro da Silva.

A classe médica de Campos, através da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, além da Policlínica Admardo Torres, construiu dois outros belos hospitais, a Maternidade Zina Duarte e o Hospital Infantil Antônio Pereira Nunes. Para prover a manutenção das três unidades assistenciais, instituiu a Fundação Policlínica e Maternidade de Campos, depois, Fundação Benedito Pereira Nunes. Osvaldo Luis Cardoso de Melo assumiria a Presidência da Fundação Benedito Pereira Nunes após o fechamento da Maternidade e do Hospital infantil, por motivos de insegurança técnica que levaram à ocorrência de dois casos consecutivos de tétano materno-infantil. Debalde tentou ele obter recursos nas esferas  governamentais para as reformas que seriam indispensáveis para retorno ao funcionamento. Quando, em 1964, sob sua Presidência, nasceu na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, em memorável Assembleia Geral, a ideia, trazida por Almeida Gusmão, de implantação de uma faculdade de medicina em Campos, foi ele um dos articuladores da indispensável reforma dos Estatutos da Fundação Benedito Pereira Nunes de forma a ampliar as suas finalidades que eram de assistência à maternidade e à infância desvalidas, ao ponto de permitir também a manutenção de ensino médico e paramédico, de modo a que aquele patrimônio imóvel, que estava fechado há quatro anos, pudesse ser utilizado como sede da futura Faculdade de Medicina de Campos. Para as obras de adaptação dos prédios à nova finalidade, já na condição de Secretário de Saúde e Assistência do Estado do Rio de Janeiro, em 1966, conseguiu que o ilustre Governador Theotônio Ferreira de Araújo Filho liberasse a verba de duzentos mil cruzeiros das cotas devidas pelo Estado ao Município de Campos, quantia essa proposta pelo então Prefeito Rockefeler Felisberto de Lima e aprovada pela colenda Câmara de. Vereadores de Campos, concedida mas não liberada pelo Interventor Marechal Paulo Torres.

Em 1967, Osvaldo Luis Cardoso de Melo teve o seu nome indicado pela Fundação Benedito Pereira Nunes, então presidida pelo ilustre membro desta Academia, Dr. Geraldo da Silva Venancio, para ser o primeiro Diretor da Faculdade de Medicina de Campos e, por aprovação unânime do Egrégio Conselho Federal de Educação, foi aceito por "notório saber", como Professor Titular de Otorrinolaringologia, magistério que nunca chegou a exercer por ser ela, àquela época, disciplina do 50 ano médico e por haver ele sido roubado ao nosso convívio quando Diretor da Faculdade de Medicina de Campos, porém, antes do primeiro aniversário daquela novel escola médica.

Sobre ele, ainda diz João Rodrigue de Oliveira: "Simples, compreensivo, leal e humano, Cardoso de Melo tinha sempre uma palavra de estímulo ao colega recém-formado e uma interminável disposição para anular as arestas e congregar os seus confrades".

"De ascendência política e nascido na então capital política do Estado, não poderia fugir às tentações dessa megera que Monsieur de Cosnac comparava à lama de Paris, que deixa mancha negra nas meias brancas e manchas brancas nas meias pretas". Idealista, homem de cultura, de visão e de rigidez de caráter, quanto sofreu Osvaldo Luis Cardoso de Melo Nilista da primeira à última hora, jamais traiu o chefe e modelo. Campos e o Estado do Rio - continua João Rodrigues de Oliveira - deram ao Dr. Cardoso de Melo muito menos do que dele receberam. Porque Cardoso de Melo, homem de sensibilidade, poeta inclusive, sentia as cutiladas e as ingratidões. Pelo que lhe fizessem diretamente, sabia perdoar. Mas não eximia de culpa os que ferissem o interesses da Velha Província, do Brasil e particularmente da sua taba goitacá, do seu berço natal. Campista apaixonado, desdobrava-se na propaganda e na defesa das coisas e da gente da planície invicta. Ai daquele que ousasse investir contra os brios e as tradições da terra de Saldanha, Patrocínio e Nilo. Não deixava mesmo de expor-se às críticas e aos perigos físicos, como no episódio da demolição, em companhia de outros zelosos conterrâneos, de um monstrengo que se pretendia erguer ao lado da matriz de N. S. do Carmo, um dos mais belos antigos e ricos templos da cidade. Era assim o Dr. Cardoso de Melo. Assim era o piraquara de Campos dos Goytacazes. E, concluía João Rodrigues de Oliveira: um grande homem, que amava a vida ao sol, que soube impor-se pela inteireza moral e imenso espírito público, que foi um trabalhador infatigável e sério".

Cardoso de Melo exerceu o cargo de vereador à Câmara Municipal de Campos na legislatura de 1924 a 1927, em pleno Estado de Sítio, no Governo do Presidente Arthur Bernardes.

Permitam-me, Senhoras e Senhores, relatar um acontecimento, para mim, marcante da personalidade daquele então jovem de 27 anos: Premido pela saudade da filha distante em Campos, vislumbrando a alegria de sua volta para o Rio e, por sugestão do velho amigo Dr. João Pache de Faria, também saudoso de ex-discípulo e Interno do Hospital Central do Exército, por volta de 1924, o General Ribeiro da Costa, meu avô, então Comandante da Brigada da Vila Militar, ainda que avesso a pedidos pessoais, solicitou e obteve do Presidente Arthur Bernardes a criação do cargo de Médico Oftalmologista da Polícia Militar do Distrito Federal para o seu genro. Ao tomar conhecimento do ato de nomeação, Cardoso de Melo, seguidor de Nilo Peçanha na defesa da Liberdade, do Direito e da Justiça, que vinham sendo desrespeitados por aquele governo discricionário, recusa-se a aceitar, pedindo ao sogro que dissesse "que de Arthur Bernardes só desejava o direito de continuar sendo contrário ao seu Governo".

Reeleito Vereador em 1929, teve seu mandato extinto pela revolução vitoriosa em outubro de 1930. Foi nomeado Prefeito pelo Interventor Punho Casado e tomou posse no dia 6 de dezembro de 1930, ocupando o cargo até o dia 9 de novembro de 1931, quando foi nomeado Secretário de Interior e Justiça pelo Interventor, o então Coronel Pantaleão Pessoa. Como Prefeito, entre outros atos, decretou o Código de Posturas do Município, tendo submetido à apreciação da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia a parte sanitária e atendido às modificações por ela introduzidas. Como Secretário de Interior e Justiça deixou elaborada a reforma do Serviço Médico-Legal do Estado, feita com a valiosa colaboração do saudoso legista fluminense Antenor Costa.

Cardoso de Melo foi peça de destaque na Revolução de 30, tendo sido preso e transportado para o Rio de Janeiro pela polícia política do Sr. Washington Luiz. Desrespeitados porém os preceitos revolucionários por Getúlio Vargas, Cardoso de Melo protestou logo. E quando os paulistas, a 9 de julho de 1932, pegaram em armas contra os usurpadores, não escondeu seu apoio á batalha constitucionalista. Convocadas afinal as eleições, em 1933, foi eleito Deputado à Assembleia Nacional Constituinte, que se reuniu a 15 de novembro daquele ano. Foi um dos artífices da Carta de 1934. Ao anteprojeto de Constituição apresentou Emenda instituindo o Seguro Social Coletivo contra a doença e o desemprego temporário e de proteção à maternidade, com a cláusula de livre escolha do médico pelo segurado. Emenda que teve a assinatura dos Professores Leitão da Cunha, Annes Dias, Fernando Magalhães e de outros médicos e advogados com assento naquela assembleia, com ideias que parecem estar norteando hoje a atual administração da Previdência Social no Brasil e que são defendidas por Pedro Kassab ainda no último número da Revista da Associação Médica Brasileira, sobre Seguro Social e livre escolha do médico pelo paciente. Com a transformação da Assembleia em Câmara, Ordinária, foi eleito membro da Comissão de Saúde Pública, presidida pelo grande cientista Arthur Neiva.

De "Constituintes Brasileiros de 1934", de Wanor Godinho e Oswaldo Andrade, Sady Bogado retirou as seguintes referências: "Osvaldo Luis Cardoso de Melo, uma das mais remarcadas conquistas da mocidade fluminense e um dos mais fervorosos propagadores da grande obra republicana de Nilo Peçanha, cuja doutrina encontrou no verbo inflamado de S. Excia. o clarim vivo a concitar as multidões ao cumprimento de seu dever cívico, faz parte hoje da assembleia Nacional como representante do Partido Radical do Estado do Rio de Janeiro".

Mais tarde, chefiou uma facção da UDN em Campos, chefia que se conta de 1945 - ano da criação desse partido - até 1952, quando se decidiu afastar por motivos de incompatibilidade intrapartidária. Múltiplos foram os apelos e cartas trocadas, pretendendo sua permanência. À que lhe  escreveu o ilustre brasileiro, Brigadeiro Eduardo Gomes, respondeu de forma que marca não só a sua elegância de estilo, mas também a firmeza do seu caráter.

Fazendo o elogio fúnebre de Osvaldo Luis Cardoso de Melo na Câmara Federal, o Deputado Sady Bogado assim se pronunciou: "Sempre filiado à linha política de Nilo Peçanha, o Dr. Cardoso de Melo jamais traiu os compromissos de sua consciência cívica e, dentre os que juraram bandeira ao lado daquele grande apóstolo das liberdades públicas, a figura do ilustre Deputado do Partido Popular Radical se salienta gigantescamente pela sua firmeza de caráter e retidão de grande propulsor na formação do espírito republicano da gente fluminense. Fez a campanha da Reação Republicana, através de cujas vigílias cívicas V. Excia. aprendeu a sonhar e a sofrer pela grandeza do Brasil. Na luta da Aliança Liberal, o seu concurso foi um dos mais eficientes, especialmente na sua terra natal, em cujas pelejas se confundiam com os seus pendores de político liberal, na mais legítima de todas as conspirações patrióticas".

Eleito Deputado à assembleia Nacional Constituinte, pelo Partido Popular Radical, impôs-se pelo seu dinamismo e brilho intelectual às maiores figuras parlamentares da época, destacando-se dentre seus pronunciamentos o discurso que fez na sessão solene de 31 de março de 1934, comemorativa do 10º aniversário de falecimento de Nilo Peçanha, a quem cultivava com verdadeira veneração.

Referindo-se a Nilo Peçanha, dizia Cardoso de Melo: "Filho de pais pobres, deveu a seus esforços a carreira ascensional e brilhante que todo o País admira. E que ele tinha de pertencer a esta classe de homens privilegiados que sabem resgatar, com a grandeza de sua vida, a humildade de sua origem. Mocidade exuberante de seiva, mal entrado na vida prática, nessa fase da existência em que tudo são dúvidas, em que os indivíduos não sabem ainda o que querem e o que pretendem, já ele tinha um grande ideal, que havia de ser também a preocupação de toda a sua vida. Formado em Direito, como poderia ter sido em Medicina ou Engenharia, ele era, essencialmente, um político, mas um verdadeiro político, um político na verdadeira acepção da palavra: um orientador, um condutor de homens, um orientador..." Mais adiante, diz Cardoso de Melo... "E que ele não era só o parlamentar talentoso, o político inteligente e hábil, o administrado capaz, o genuíno democrata, que amou mais do que ninguém as instituições. Era, igualmente, o jurista acatado, o literato de valor, que acompanhava o movimento intelectual do País, sempre a par das novas ideias filosóficas e de todas as conquistas literárias"... Finalmente diz:..."E Nilo Peçanha foi grande pelos serviços que prestou à Pátria; Nilo Peçanha foi grande pelo culto que consagrou, sem cessar, em toda a sua vida, à Liberdade, ao Direito e à Justiça; Nilo Peçanha foi grande pelo seu talento iluminado, pelo seu espírito culto e tolerante, pelo seu coração nobre e generoso, que nunca odiou a ninguém e, conscientemente, nunca fez mal a ninguém".

Nesse momento, o Deputado Sady Bogado foi interrompido pelo Deputado Amaral Peixoto, com o seguinte aparte: "Essas palavras que V. Exa. acaba de ler, do Dr. Cardoso de Melo sobre Nilo Peçanha, aplicam-se também, perfeitamente, ao ilustre campista cujo passamento nós, hoje, deploramos. Para confirmar aquilo que V.Exa. está dizendo sobre o grande homem de Campos, relato a esta Casa um fato passado comigo: Éramos adversários políticos. Não o conhecia pessoalmente. Durante uma campanha, se não me engano, quando da campanha do Marechal Lott à  Presidência da República, quando realizava o comício na cidade de Campos, fui aparteado por um homem no meio da multidão. Procurei ouvir o que ele dizia no meio da algazarra. Meus companheiros chamaram-me a atenção de que se tratava do Dr. Cardoso de Melo, ilustre prócer da União Democrática Nacional. Ouvi atentamente o que ele disse e respondi-lhe. Ele retrucou. Estabelecemos um diálogo democraticamente. Mais tarde, fui informado de que a minha atitude o havia impressionado e que ele, sem ódios, embora meu adversário passou a me ver sob outro aspecto. Posteriormente, quando

V.Exa. e eu nos empenhamos em ajudar os campistas que criavam a Escola de Medicina de Campos - esse grande esforço, grande empreendimento da gente campista - foi que vim a conhecê-lo pessoalmente. Ele, já alquebrado, já minado pela doença que iria roubar-lhe a vida, conversou comigo particularmente. Tive dele magnífica impressão, confirmando tudo que dele diziam seus adversários, que eram meus correligionários, mas que nunca deixaram de respeitar o Dr. Cardoso de Melo, um dos maiores vultos culturais e morais de Campos. por isso associo-me às palavras de V. Exa. Foi uma grande perda para o Estado do Rio de Janeiro".

Retomando a palavra, continua Sady Bogado: "Muito grato. O depoimento de V.Exa. talvez seja o de maior valor desta Casa. Realmente o Dr. Cardoso de Melo, como muito bem disse o nobre colega, foi um dos seus mais ardorosos e leais adversários no Estado do Rio. Mas, realmente, nos seus últimos momentos de vida, conhecendo-o pessoalmente, sabendo de suas atitudes, de sua maneira leal e honesta de proceder, ele já nutria pelo nobre colega simpatia e admiração. Agradeço, sensibilizado, as palavras em homenagem a esse nobre e ilustre homem público que foi Cardoso de Melo".

A seguir, manifesta-se o Deputado Pereira Pinto: "Deputado Sady Bogado, o nobre colega, falando a respeito do grande tribuno, grande médico e grande cidadão campista que foi o Dr. Cardoso de Melo, não faz mais do que cumprir uma obrigação e eu, também, não faço outra coisa ao vir aqui manifestar a minha solidariedade às suas palavras e, ao mesmo tempo, a minha tristeza pela perda do tão ilustre cidadão Osvaldo Luis Cardoso de Melo. Queira receber este aparte que tem o intuito de prestar uma homenagem à família do Dr. Cardoso de Melo e à terra goitacá".

Referindo-se a Cardoso de Melo, diz, entre outras coisas, o jornal A NOTICIA: "Um nome. Uma Legenda. Figura integrada na história de Campos. Dessas que não precisavam do mistério da morte para aumentar de estatura. Em relação a ele não se aplicaria a frase de Henrique III diante do corpo do Duque de Guise: "Morto, parece ainda maior do que vivo". Cardoso de Melo já era grande em vida".

A 17 de agosto de 1966, Osvaldo Luis Cardoso de Melo tomou posse no cargo de Secretário de Saúde e Assistência do Estado do Rio de Janeiro, por nomeação do então Governador Theotônio Ferreira de Araújo Filho. Exercendo o referido cargo até o dia 31 de janeiro de 1967, durante, portanto, apenas cinco meses e meio, além de visitar, em todos os municípios do Estado, todas as dependências daquela Secretaria, foi-lhe possível criar, em Niterói, o Centro de Recuperação de Alcoólatras (CRA N° 2), instalado no dia 12 de outubro e que iniciou suas atividades no dia 24 do mesmo mês, funcionando no Centro de Saúde de Santa Rosa, cujo edifício mandara limpar externamente. Deixou criados mais três Centros de Recuperação de Alcoólatras (CRA N° 3, em Petrópolis, o N° 4, em Barra do Piraí e o N° 5 em Campos), tendo conseguido que, para aquela finalidade, a assembleia Legislativa incluísse no orçamento para 1967 a verba de doze mil cruzeiros novos. Tais Centros de Recuperação receberiam também o auxílio monetário da Comissão Nacional de Entorpecentes do Ministério das Relações Exteriores, graças ao inestimável concurso do ilustre fluminense Professor Décio Parreiras, seu Presidente, na época. Foi-lhe possível ainda criar, no Centro de Saúde de Campos, o Dispensário "Augusto Guimarães", de combate à tuberculose. Aquela época, um novo Código de Saúde para o Estado do Rio de Janeiro foi elaborado e por ele encaminhado à assembleia Legislativa para a respectiva aprovação.

Osvaldo Luis Cardoso de Melo, com Nelson Pereira Rebei, José Landin, Silvio Fontoura, Jorge Pereira Pinto, Gastão Machado, Alcides Carlos Maciel e outros, foi fundador da Academia Campista de Letras, onde ser-lhe-ia destinada a Cadeira Nilo Peçanha. Era Membro da Academia Fluminense de Letras. Foi com Amador Pinheiro da Silva, Alcides Carlos Maciel e Antônio Pereira Amares, o criador da Rádio Cultura de Campos, a emissora pioneira do Estado do Rio de Janeiro.

"De graça, com entusiasmo, dedicação e simplicidade, interessava-se por tudo que dissesse respeito à felicidade coletiva, que interessasse ao seu povo. E era Grande Benemérito do Goytacaz Futebol Clube, membro de seu Conselho Deliberativo, como o era do Clube de Regatas Saldanha da Gama e do Jockey Clube de Campos. Era visto na Lira de ApoIo, Euterpe Sansebastianense, Lira Guarany, como no Centro de Cultura de Campos, neste propugnando pelo progresso do Orfeão Santa Cecília, que era a menina dos seus olhos", no dizer de João Rodrigues de Oliveira.

Era Membro benemérito da Associação de imprensa Campista, cujas Assembleias Gerais eram tradicionalmente presididas por ele, tendo, quando Prefeito Municipal, doado o terreno para a construção de sua sede atual.

Militou na imprensa, tendo editado e dirigido, como proprietário, os tabloides O 5 de JULHO e A SEMANA, de cunho nitidamente político, editados em 1924 e 1927, em oposição frontal ao governo Arthur Bernardes. Mais tarde, em 1947, obteve o registro de A JORNADA, que não chegou a editar. Foi colaborador dos diversos jornais campistas e, frequentemente, escritos seus eram publicados por órgãos da imprensa da Capital Federal.

Campista fervoroso, defensor incansável das tradições de Campos, não se conformando com a mudança do nome do tradicional e querido Liceu de Humanidades de Campos para Instituto de Educação de Campos, propôs, em 1938, e após aprovado subscreveu, como Presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, apelo daquela Sociedade ao Interventor Federal, Comte. Ernani do Amarai Peixoto, no sentido de ser restabelecido o nome de Liceu de Humanidades de Campos, no que foi atendido. Mais tarde, ao ser tentada a mudança do nome do Liceu de Humanidades de Campos para Colégio Estadual de Campos, repetiu idêntico apelo e, uma vez mais, a autoridade governamental de então reconsiderou e hoje, graças a isso, temos aquele tradicional educandário a completar o seu centenário no próximo ano ostentando o se glorioso nome.

Pai de família extremoso, legou-nos a todos, se não fortuna material, o exemplo de dignidade e austeridade que foram e continuam sendo inseparáveis e que nos impele à mesma conduta e autodisciplina que com ele aprendemos.

Teve Osvaldo Luis Cardoso de Melo a felicidade de, quando interno no Hospital Central do Exército, em 1918, conhecer Aída Moutinho da Costa, jovem bela e culta que cativou o seu coração. Filha do Comandante do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, o então Cel. Alfredo Ribeiro da Costa, herdara dos Ribeiro da Costa a bravura e a coragem com que aceitara, casando-se em 16 de janeiro de 1922, separar-se da família e ir radicar-se em Campos com o esposo, o que, àquela época, pelas  dificuldades de transporte, significava verdadeiro desterro. Dos Moutinho, herdara a jovem Aída a magnanimidade e o devotamento amoroso de sua mãe - Vovó Totônia.

E, Senhores, quando sou levado a fazer o elogio do meu pai, como Patrono da Cadeira n° 46 que me honro em ocupar nesta Academia, é com imensa satisfação que, repetindo o ilustre escritor Guilherme Figueiredo, eu lhes digo e me rejubilo por isto: Tive um Pai exemplar, mas também tenho Mãe. E, a esta, que foi a companheira e amiga de Osvaldo Luis Cardoso de Melo, médico de vida modesta, que trabalhava para criar educar cinco dos sete filhos que trouxe ao mundo, político, quase sempre de oposição aos governos constituídos, rogo-lhes, Senhores, que me permitam dirigir neste momento: "Foste, Minha Mãe, o aconchego do trabalhador, quer das lides políticas, quer do trabalho profissional; foste a administradora parcimoniosa dos recursos trazidos para casa; varaste noites insones, quer nas doenças de todos nós, quer labutando na velha máquina "Sínger" onde, com amor e dedicação, costuravas as nossas roupas. A ti, beijo-te as mãos bendizendo a felicidade que temos por estares aqul com saúde e plena de vitalidade nos teus belos oitenta e um anos.

Difícil, em Osvaldo Luis Cardoso de Meio, divorciar o médico do homem público, do administrador, do estadista, do cultor das letras, do patriota. Era apaixonado por tudo o que fazia e acreditava piamente que só com entrega total, com verdadeira paixão, se atinge o ideal. Ele se dava inteiro às causas que abraçava.

Paes da Cunha, ao fazer-lhe o elogio fúnebre, na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, no dia 31 de agosto de 1969 - Dia da Saudade - assim a ele se referiu:

"O Homem. A Realidade. O Mundo. A Dignidade. A Honra. A Responsabilidade. A Ciência e as Artes. O Trabalho e a Cidade Natal. Tudo isto e talvez mais, como um autêntico caleidoscópio, me fazem lembrar um dos maiores nomes de toda a história desta heroica cidade.

Cardoso de Meio nasceu para ser grande e foi maior. Cresceu para ser Homem e o homem existiu por instinto e progrediu pela inteligência. foi grande homem porque fez do pensamento o leme e a bússola do seu próprio ser. Viveu a vida, não como um sonho vazio, mas como uma sucessão de transformações, ou mais exatamente, como uma sobreposição de atitudes".

E, mais adiante, diz Paes da Cunha:

"Osvaldo Luis Cardoso de Melo possuía cultura de estilo e de linguagem. Era um elegante no físico e no intelecto. Nele, a cultura não era um simples fruto de curiosidade, de uma inquietação misteriosa que convidava a olhar para o fundo de todos os bismos. Não e absolutamente não. Concebia a história da cultura colocada como eixo da educação, para que houvesse mais respeito entre as nações e menor desconfiança recíproca, mais amor ao espírito e menos inclinação à força nas gerações futuras.

Foi um orador primoroso e fez do verbo um escudo como Cicero e Demóstenes. Ardoroso, de voz pausada e ressoante, enobreceu e dinamizou os debates legislativos. Como Ruy ou Silveira Martins, levantava as plateias. Como Robespierre ou Gladistone, encantava o próprio povo. Com José Bonifácio, arrebatava pela adequação dos gestos. Por tal concurso de predicados, suas orações produziam arrebatamento às multidões que se deslocavam para ouvi-lo. Suas convicções políticas possuíam a força e o poder convincente das palavras de um Abraham Lincoln".

Com relação a ele como ao seu inolvidável amigo e guia político, Nilo Peçanha, poder-se-ia dizer com Lincoln: "Cumpre-nos fazer com que esses homens não tenham tombado em vão; que com o auxílio de Deus, a Nação assista à renascença da Liberdade e que o Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo não desapareça da face da Terra".

Chegamos afinal ao término desta jornada, após o percurso de uma longa caminhada. Na curva da estrada, paramos e olhamos para trás. Na poeira do tempo, o rosário das épocas passadas, a vibração da vida de hoje e o mistério de um futuro que se propagará através dos nossos filhos, numa expressão de vida e de força até o infinito. Sobre os meus ombros, carrego o peso de duas gerações de médicos, que o juízo de seus contemporâneos exaltou como exemplos dignificantes de humildade profissional e de grandeza humana. Mirando meu pai, confio que me será concedida a força necessária para a continuação desta tarefa gloriosa e que eu possa, um dia, transmiti-la aos meus filhos com o mesmo devotamento com que neste instante, de profunda emoção, eu me sento nesta Cadeira, que leva, para mim, o nome sagrado de meu pai.



Biografia escrita pelo Acadêmico Osvaldo Cardoso de Melo


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