Fernando Augusto Ribeiro de Magalhães
Especialidade:
Acadêmico Patrono
Cadeira: 8
Patrono: destinado a Seção de Medicina Cirúrgica
Mini currículo:
I - FERNANDO AUGUSTO RIBEIRO DE MAGALHÃES
Quando escolhi Fernando de Magalhães para Patrono da Cadeira nº 8 desta Academia, que tive a imarcescível honra de ajudar a idealizar e fundar, foi porque fui seu discípulo e com ele na tradicional e grande escola da Obstetrícia Nacional - O Hospital de Pró-Matre - iniciei os meus estudos como acadêmico sendo mesmo convidado ao término do curo para seu assistente, o que declinei de tão honroso convite por ter ido trabalhar naquela outra grande escola de obstetrícia da época - Maternidade São Cristóvão, como Chefe de Clínica do saudoso Metre, Prof. João Pereira de Camargo.
Na Pró-Matre, recordo-me daquele anfiteatro, quando ali chegava com o meu avental muito alvo, impecavelmente engomado, aquela estátua gigante, cabeça romântica, basta cabeleira, ondulada e branca, olhar vivo e penetrante, roto cheio e róseo, barba sempre bem feita, o porte fidalgo e andar de quem abe onde tem os pés. Em uma pessoa, como já descrevera Octacílio de Souza Braga, aninhavam-se o lúcido intelecto, a retilínea consciência, a alma democrática e o desvelos piedoso de fraternidade entre o individuo, a classes sociais e os povos - ali o "guerreiro audaz" no proporciona com a sua dialética impecável, com os conhecimentos profundos as sábias lições de ordem técnica, educativa, cultural e assistencial que ele dizia com a categoria que sabia impor "onde o tropeço me anima, impulsiona-me os conhecimentos profundos as sábias lições de ordem técnica, educativa, cultural e assistencial que ele dizia com a categoria que sabia impor "onde o tropeço me anima, impulsiona-me o obstáculo, alenta-me a fadiga, dá-me coragem o inimigo, porque tudo me obriga à resolução do trabalho e ao desassombro da luta, na necessidade de impor, para não ser vencida a ideia" e a toda esta beleza ainda guardamos embevecido na terna recordação.
Fernando de Magalhães nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 18 de fevereiro de 1878, no bairro de Paula Mattos, em Santa Teresa, sendo seus pais: Antônio Ribeiro de Magalhães, português e Dna. Deolinda dos Santos Ribeiro de Magalhães, brasileira.
Como pai zeloso e contando seu filho pouca idade, narrava o metre que durante o seu curo Médico, quando interno na Maternidade da Santa Casa, em eu plantões noturnos, seus pai abeirava-se altas horas da noite do porteiro do tradicional hospital e inqueria se o estudante Magalhães estava realmente cumprindo o eu plantão. Fernando veio a ter conhecimento desta vigilância frequente e anônima pela indiscrição do porteiro, o qual, de certa feita, contou-lhe o fato, indagando o que um senhor português, modesto e curioso, era do já renomado estudante nos meios acadêmicos. Isto vem demonstrar o quanto o Sr. Antônio era zeloso no seu paternalismo consciente.
Seu pai, associado ao Sr. Nicolau Alves, seu conterrâneo, fundou com ele a tradicional Livraria Francisco Alves, que foi um dos grandes centro culturais brasileiros e onde se reuniram, no fim do éculo passado e início do atual, o mais famosos representante da ciência e da letra da cidade do Rio de Janeiro.
Cursou o mestre, o Colégio Pedro II, chamado na época Colégio Imperial, onde bacharelou-se em 1893, com a idade de 15 anos.
Estudou Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro, sediada na Santa Casa de Misericórdia, à Rua anta Luzia, e aí doutorava, com 21 anos de idade em 1899.
Casou-se no ano da sua formatura com Dna. Olga de Andrade, filha do Prof. Nuno de Andrade, de cujo consórcio nasceram quatro filhos: Beatriz, Lavínia, Lúcia e Nuno. Este, seguindo a tradição paterna, estudou Medicina e se especializou em Obstetrícia, tendo sido interno, assistente e Diretor Clínico da Pró-Matre, onde faleceu aos 42 anos de idade, quando praticava uma cesariana na sala de cirurgia do Pavilhão Luiz da Rocha Miranda.
Dos filhos, falo de um modo carinhoso e especial da Profª Lúcia Magalhães, Técnica de Educação e Diretora do colégio São Fernando, que tive a honra de madrinha honorária, sendo substituída na solenidade da nossa posse por minha irmã, pois sua modéstia não lhe permitia aparecer em uma Sessão Solene.
II - FERNANDO MAGALHÃES, O OBSTETRA E O GRANDE CRIADOR DA MAIOR ESCOLA DA OBSTETRÍCIA BRASILEIRA.
Formando-se em Medicina aos 21 anos de idade, desde o 5º ano médico já trazia definida a especialidade que exerceu com brilho invulgar e com exemplo dignificante - a Obstetrícia.
Aos 44 anos de idade, isto é, em 21 de dezembro de 1922, tornava ele posse da Cadeira de Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil e dizia: - "Chego senhores professores, a esta culminância que foi sempre a minha aspiração maior sem sentir o transbordamento das grandes alegrias. Lastimo que não me favoreça a sorte com o privilégio dos deslumbrados, muito menos por conta da grande esperança realizada do que por culpa do tempo em que a alcancei. Não direi que os cabelos brancos houvessem dispersado sonhos que a mocidade acalentara, infelizmente não tive no começo da vida, pela dureza da luta, a fortuna de me encantar com os devaneios da imaginação desocupada. O mundo em que vivo, as coisas que tenho visto, oh homens que me cercam, mais adiante: "as convicções ditam um pensamento talvez amargurado na hora de assumir, perante a minha consciência, o compromisso de manter, na execução dos meus encargos, uma servidão fiel à justiça sob guarda tranquila da bondade - sem dúvida, não irá hoje mal a sinceridade que sempre usei.
Se traço o rumo da bondade e da justiço, ao recolher as responsabilidades que me competem, é porque, embora nele de muito porfiando, vejo-me ainda longe de o poder seguir. A bondade é o maior e menos acessível atributo humano; anda desgraçadamente por aí, disfarçada em indiferença, que condescendência, que gera a inutilidade; em abandono que provoca o vício, em hipocrisia, que incita à falta. É a corrosiva indulgência postiça com que o interesse cria a reputação e adquire descanso, a indulgência dos pródigos em graças por abastados em erros, dos que transigem escondendo culpas, dos que cedem para não terem necessidade de exigir, dos que dão a fim de que nada lhes peçam, dos que tudo revelam porque também se afastam de suas obrigações.
É a bondade criminosa surgindo do conchavo, da combinação, do plano, para reciprocidade de vantagens, apagamento de préstimos e anulações de deveres, abrindo o caminho da decadência, mais forte do que os louvores de encomenda, mais nítida do que as aparências opulentas.
Mesmo que a ocasião possa parecer magnífica de força e de grandeza, a corrupção da brandura maligna prepara fatalmente a derrocada, tanto mais impressionante quanto mais alto o poderio nutrido na inconsciência dos nulos e no temor dos fracos," e, terminando, conclui sua oração de posse: "Nada mais venerável do que o homem que surge com fé e energia, abre fundo e rápido o sulco da sementeira e se vai em paz, acabada a tarefa, para não tolher com sua sombra a planta nova que cresce.
Assim como me obrigo, senhores professores, a não turvar com o meu esforço sincero o brilho da vossa sabedoria, assim também eu vos prometo senhores estudante, não manchar com a minha inutilidade pomposa o viço da vossa juventude. "
E o grande mestre cumpriu com as suas afirmativas, pois deu à obstetrícia no Brasil um novo rumo, reformou-a, renovou-a elevando como especialidade a posição de destaque que merecia no cenário da medicina Pátria e de além-mares, criando a Escola Obstétrica Brasileira, que constituiu o orgulho de uma geração e abriu um marco indelével de um novo porvir.
III - FERNANDO MAGALHÃES E OS ÓRGÃOS DE CLASSE
Com apenas 23 anos, na brilhante precocidade do seu talento, ingressava na Academia Nacional de Medicina, onde defendeu teses das mais altas significações: como, para citar apenas uma: "a repressão ao aborto criminoso", quando afirmou com fé e convicção: O debate que o tema - aborto criminoso - suscitou, arquiva grande cópia de ideias em defesa e em oposição ao projeto da Comissão nomeada pela Academia, Houve quem pregasse o neomalthusianismo e o direito ao aborto; mas não tardou a contestação ainda de pé: Houve quem desconhecesse fatos e coisas relativas à questão, mas apareceu a explicativa, ou melhor, o ensino e ninguém reclamou maior esclarecimento. Houve censura ao preceito de evolução do segredo profissional; mas a prática, entre nós, exigiu, no mínimo, as contradições dos retrógrados e a teoria revelou a boa vontade dos eruditos, abraçando as novas ideias. Não se duvidou, a não ser um conceito isolado, da existência do crime do aborto e da urgência em reprimi-lo. Nada faltou para realçar o critério da Comissão nomeada pela Academia, razões de ordem jurídica, médica e moral. As de ordem jurídica bastante boas, em que pese o juízo da bacharelice, chalaceira que rebaixou esta Academia até a grosseria do seu apólogo de remendão.
Recordem-se as discussões. Porventura houve quem contrariasse o direito natural pertencendo ao embrião? Quem destruísse a noção de sua defesa legal? Quem negasse o princípio da criminalidade na sua lesão caracterizada? De certo não, e, até mesmo na desorientação e na discórdia, harmonizaram-se os votos pela diminuição da casuística do aborto e o afastamento de seus malefícios.
O acordo integral na questão em si, no fato básico, na existência do mal, em suma, transformou-se em atritos contundentes, quando se tratou do meio de remediá-lo. O que a Comissão da Academia fez passou a ser, daí por diante, a monstruosidade ineptamente copiada do estrangeiro, o excesso do dogmatismo, o exagero da insuficiência, a demasia da jactância.
Na sessão de 27 de novembro de 1919, ao receber o Prof. Octávio de Souza, que foi tão nosso conhecido e Professor de grande maioria dos acadêmicos de nossa Academia, assim se pronunciou:
Senhor Dr. Octávio de Souza, meu prezado amigo. Há dez anos que convivemos nas mesmas preocupações. O fato de se pensar nas mesmas coisas dá raízes fundas à amizade, se é ela igual a que vos dedico, paternalmente, desde que vos tenho como criatura minha na profissão em que faço, principalmente no que faço de bom. Hoje, porém, pela segunda vez na vida, fujo ao princípio tão fielmente observado. Recordarei a primeira, para afagar a nossa vaidade e falar ao vosso sentimento, rememorando a tarde dolorosa em que nos apartamos do nosso grade amigo, Manoel Lazari, cuja figura ainda nos guia, cujas ideias ainda ensinam, cujas perfeições ainda inspiram, o morto querido de que tudo nos fala e de quem, por tudo, falamos todos os dias, o nosso coração dele tão deserto. Tarde dolorosa em que mal pude contar agoniado e soluçante, o quanto na satisfação de minhas ambições houvera sido ele meu maior orgulho.
Hoje também direi do meu esforço, trazendo-vos até esta Academia, como uma recompensa do que me tem sido dado lutar e vencer, vós que sois, dentre os que me robustecem pela solidariedade e pelo afeto, o primeiro em tempo e em apreço.
Nunca olhei em derredor de mim que, vos não visse obediente, solícito, sincero e dedicado. Nunca interroguei em torno de minhas cogitações que vos não ouvisse exato, pronto, culto e sincero.
Nunca abdiquei de minhas funções que vos não sentisse capaz, destro, consciente e apurado. Nunca indaguei da eficiência da minha ação que vos não achasse digno, lúcido, certo e convencido.
Temos sido companheiros de alegrias e de infortúnios. Na minha vida profissional nunca me faltou o favor da vossa colaboração no preparo das ideias novas, na execução dos atos arrojados, na colheita dos fatos ponderosos, na construção dos princípios dominantes, na conquista dos ideais alevantados, na catequese dos novos apóstolos, na formação de melhores discípulos; em toda essa pesada tarefa, maior do que os nossos desejos, acima de nossa envergadura, mas a que devemos o consolo dos dias radiosos de labor e fecundidade.
Meus colegas, necessário é que aqui chegássemos, para que volvendo os olhos para um passado que já vai longe, compreendêssemos a atitude do Prof. Octávio no modo de tratar os seus assistentes. Hoje, eu o compreendo, hoje, eu o aceito e a ele, embora tarde, as minhas homenagens.
Foi Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia por várias vezes e na terceira vez em que era empossado assim se manifestara: "Este posto a que me elevais, pela terceira vez, está acima dos meus méritos. A convicção de tal verdade torna-me difícil uma prova de afeto e agradecimento na altura da vossa generosidade. Uma Associação de Médicos, principalmente de médicos novos, todos eles procurando, dia a dia, capacidade profissional e cultura científica igual a dos mais famosos centros de sabedoria, vivendo a Associação em vigorosa prosperidade, tem na sua presidência um posto de obrigações e de prestígio. E esse prestígio, vós me emprestais agora, como uma prova significativa, na eleição que tanto me honra. Além de vos dizer o que já sabeis, o muito que me vai em reconhecimento pela distinção que me dispensastes, compete-me, perante vós, medir o alcance da responsabilidade. Esta casa tem tradições; não lhe faltaram nunca nem influência social, nem valor no conceito da classe. E com o seu feitio democrático e independente, inspirada pela mocidade que a procura e que a ilustra, tem sido ela o ponto de onde partiram ultimamente os mais retumbantes brados em prol da campanha moderna e vencedora da medicina social.
Ofereceis a direção dos vossos destinos à minha boa vontade, mal servida de préstimos. Empregarei o maior esforço para ver se evito o vosso arrependimento; aí fica a promessa solene. E eu penso poder fazê-la. Na minha norma de viver, só tenho um pensamento - a utilidade da vida. Nunca me impulsionaram nem vaidade, nem interesses, nem invejas. Se tenho lutado ao máximo, se provoquei hostilidades, se criei desafetos, se conquistei maledicências, fi-lo sempre no cumprimento deste programa - a utilidade da vida - onde o tropeço me anima, me impulsiona-me o obstáculo, alenta-me a fadiga, dá-me coragem o inimigo, porque tudo me obriga à resolução do trabalho e ao desassombro da luta, na necessidade de impor para não ver vencida a ideia. A ideia, sim, meus amigos, e não a pessoa, digo-o solene e sinceramente. A pessoa, acreditai-o não é nada, apenas foge à recompensa na dureza da tarefa que deve viver ou morrer.
IV - FERNANDO MAGALHÃES E OS SEUS JOVENS DISCÍPULOS
Deveis estar pronto para executar a máxima hipocrática, sintetizando a imensa tarefa profissional, "quando a brevidade da vida, contrapõe a vastidão dos conhecimentos humanos, a passagem fugaz da ocasião, a autoridade tão enganosa da experiência e a forçosa vacilação do espírito fugidia, a experiência enganadora, o juízo difícil. A vida é breve. Seja ela um soluço imenso, um desejo contínuo, um gozo efêmero, é sempre um rápido instante no tempo talvez infinito. Se-lo-á ainda mais a vossa, votada canseira sublime de zelas pela do nosso semelhante, solicitado pelo sofrimento que vos olhará como uma salvação miraculosa, e mais dele serão os vossos trabalhos e os vossos lazeres, tal a ansiedade pelo vosso consolo, pelo vosso cuidado, pela vossa palavra. Quem quer que se sinta ameaçado, torturado de dor ou transido de morte, implorará a misericórdia lenitiva da solicitude em busca do enganoso alento que até consegue fazer crepitar de esperanças a vida crepuscular. Melhor sabereis, então, como se vos oferecerá a oportunidade de gastar a nossa vida pela dos outros, tão insensivelmente, que a velhice, se a ela se chega, será surpresa de um descanso ou de um abandono, oferecendo ainda em seus dias finais, a recordação de todos os episódios dolentes, que calaram as alegrias da mocidade. Mas se a vida é breve, a arte é longa, tão longa quanto a humanidade sofredora.
Tão longa a arte, que apesar de suas conquistas e de suas descobertas, ainda não se liberou do maravilhoso. Haveis de sentir na profissão qualquer coisa de sobrenatural que iluminará as trevas do diagnóstico, e devassa com o olhar de eleito o prognóstico impenetrável. Maravilhosa criação será a vossa, formada dessa graça divinatória, ao mesmo tempo favor da natureza privilegiada e prêmio da fecunda meditação.
Arte longa que ensina a ler o livro da vida e a decifrar os enigmas da morte; que empresta halos de predestinado e transfigurações de Santo; que descortina o invisível e alcança o insondável; que dá a razão aguçada e forte visão sobrenatural e estranha; que apura o entendimento da descoberta do mal onímodo e esquivo; que se sente seduzida pelo segredo e pelo desconhecimento; arte de ouvir e de esquecer, de sentir e de perdoar, de amar e de sofrer; arte de mudar a lágrima em riso, a dor em beatitude, a agonia em salvação; arte de receber o primeiro vagido e de escolher o último alento; arte de prolongar a vida e de suavizar a morte; arte de Semideus de outrora e dos grandes sábios de hoje; arte sobre-humana que arrancar do mistério a verdade, para espalhá-la generosamente, pelo mundo vasto e sombrio, a todos os que gemem e a todos que choram, como um sinal de fraternidade e de esperança.
Esperar, ter confiança no que há de vir, eis o que nos falta, são as formas mais puras de fé de todos os labores do futuro apesar da figura desanimadora do presente. Ninguém olha essa figura, nem muito, nem demoradamente. Cada um, que trabalhe, que semeie, que creia na recompensa, porque todo pensamento sombrio está eivado de erros e nunca, nunca, a verdade foi negra.
Deixou ainda para moços a sua palavra à juventude na sua Cartilha da Probidade que constitui como já alguém tão bem disse: "Tesouro opulento de normas espirituais, escrito com aquela finura atraente, por onde transparece a alma bondosa e emotiva do autor, que amigos, discípulos e descendentes admiram e reverenciam ainda hoje, como se a voz lhe ouvissem no timbre sonoro da palavra colorida, brilhante e substanciosa" e onde encontramos: Encontrarás a verdadeira alegria na utilidade da tua vida.
Ornarás a tua casa com a virtude do teu trabalho - Honrarás os que te agasalham, consolando os que te procurarem - Praticarás a fé no teu destino, para dominar a ambição dos teus desejos. Só pensarás naquilo que puderes clamar toda gente - Afasta-te do caminho onde a benção materna não te puder acompanhar - Serás rico se souberes repartir a tua prosperidade - Exaltarás de bondade e de justiça pela grandeza do Brasil e não esquecerás nunca, que o mesmo céu vela sobre todos os povos.
V - FERNANDO MAGALHÃES E AS OBRAS SOCIAIS DE AMPARO À MATERNIDADE
Em plena juventude, conforme tão bem nos conta Moniz de Aragão, forte e resoluto, clamou por um berço para o recém-nato e um leito para a mulher mãe, no intuito de proteger a mulher desamparada e a infância desvalida.
Exaltou de maneira pródiga a condição da maternidade. As dores e os sofrimentos dessa honra imperativa feriram o âmago de sua sensibilidade. Foi seu sonho ampará-la e servi-la. A luta e o entusiasmo em que se lançou cristalizou-se na Pró-Matre. E a sua história é tão significativa. Conta-nos que como paga dos serviços prestados ao povo durante a epidemia da gripe que ficou conhecida como "espanhola", pediu Fernando Magalhães ao Presidente Wenceslau Braz o já velho casarão da Alfândega onde havia sido instalado um hospital de emergência, para que fosse feito do mesmo, um local para assistência à mulher grávida. E a qualquer mulher grávida, pois dizia ele: - "Se os pais são às vezes irresponsáveis, toda maternidade é santa". Como nos diz tão bem D. Marcos Barbosa: - "Pois ali, ao contrário dos outros hospitais, mesmo do governo, jamais se ouviria a frase dita em Belém à Mãe de Deus e dos Homens, prestes a dar à luz: - Não há lugar!". Realizando-se, desde então o milagre, como lembrava no Conselho Federal de Cultura, Raymundo Muniz de Aragão: - "Não da multiplicação dos pães, mas da multiplicação dos leitos e dos berços". Foi das suas realizações a que mais fundo lhe tocou. São dele essas palavras: - "No dia em que pude corporificar, embora simplesmente o meu pensamento de piedade e o meu entusiasmo patriótico pela que concebem e pelos que nascem na desgraça, pedi ao coração que me ditasse u´a máxima significativa, capaz de traduzir a vibração de meu orgulho e o alcance do meu desejo".
Compreendi então, a incapacidade de exteriorizar o que está acima dos atributos humanos e senti o dever de concitar a colaboração de forças criadoras. Por isso fui tirar da prece oferecida à maternidade divina e do desvelo de toda gente e, como remate compensador do pouco que se perdera do muito que se quisera, ficou inscrito a legenda de esperanças, de fraternidade e de gratidão.
"BENDITO É O VENTRE QUE FRUTIFICA".
E falando na Pró-Matre, escola da grande maioria de obstetras brasileiros, a qual rendo, neste momento, as nossas homenagens, não seria justo que aqui, ao lado do grande mestre, não associássemos as nossas homenagens à sua grande, valorosa e inesquecível colaborada, a nossa querida Leonor a quem chamávamos carinhosamente de Gorda.
Falando sobre obras sociais dizia-nos ele: - A ciência social foi até agora palavrosa e teórica, e o brado de liberdade, que há um século ecoa por todo o mundo, desvairou os néscios e atordoou os fracos; triste consequência das doutrinas que as grandes cabeças engendram para que os pequenos cérebros interpretem e executem. Agora porém o que se tenta, e que se há de conseguir, não é mais esse regime de liberdades mantidas e nefastas e sum a organização da solenidade sincera, que não derrama pregões sobre o aturdimento dos incultos, mas ilumina o espírito e revigora o corpo, construindo a consciência do cidadão, liberto do avultado espólio de um século de democracias teóricas - esse emaranhado de códigos e de leis que mais constrangem do que protegem - e compreendendo finalmente que a bem aventurança universal basta a simplicidade majestosa do Decálogo. Surja pois, daqui, um clamor de rebate em prol da nova agremiação política, o partido da eugenia brasileira, remodelando o individuo que por seu turno modificará os costumes geradores das leis supremas, ao invés de pleitear os códigos complexos cujo liberalismo se deforma todos os dias pela necessidade da adaptação, tanto à inércia dos mandatos como ao excesso dos mandantes.
Determinando assim, a Medicina social desvenda os mistérios da geração humana, cuja fonte o ventre materno, merece a guarda da sua sabedoria porque a vida dos povos depende, acima de tudo, do farto e robusto viveiro dos seus cidadãos.
Dos três fatores econômicos de uma nação - a terra, o capital e o braço este predomina; o solo mais fértil, o subsolo mais rico, nada valem sem o indivíduo que os explore.
Alexandre Dumas já dizia que a maternidade é o patriotismo das mulheres. Roosevelt nos afirmava: é condenada a nação cujas mulheres têm medo de ser mães. O mestre Fernando com muita propriedade ditava:
Os povos extinguem-se pelo excesso de egoísmo, o afrouxamento dos laços sociais, a dissolução familiar, a indiferença patriótica, tudo conseqüência da esterilidade que é o suicídio de uma raça.
Ao Brasil, ainda não interessa, embora sejam francos os indícios da sua proximidade, o problema da oligopedia, mas ele enfrenta a dificuldade do povoamento. Depois é questão vital a cacogênese que nos fornece a cohorte dos débeis, dos inviáveis, dos imaturos e dos natimortos: For aqui e por lá o fruto humano evolui, definha ou prospera, dentro do ventre materno, ao sabor do acaso, em precárias condições de moléstia e de indigência, por aqui e por lá, a puericultura, defeituosa ou ausente, prepara uma raça frágil e mórbida que paga à morte pesado tributo na hora da sua eclosão ou não consegue vencer os primeiros obstáculos da vida. Estas palavras de Magalhães poderiam ser aplicadas, hoje, sem se retirar uma vírgula, quando assistimos Médicos, Professores que foram seus discípulos defenderem um planejamento familiar caótico, onde esta Pátria, grande na sua extensão, acolhedora no seu calor humano, recebe filhos de todos os outros países para povoa-la enquanto pregam um planejamento familiar, estimulado por unia Sociedade, onde não se alcança qual o interesse no crescimento da população e não se sabe, também, por onde entra o numerário para sua manutenção e como é distribuído. Além do mais, chamam para nós, Médicos, uma responsabilidade que não nos cabe educar e instruir. Oferecer um salário condigno para as necessidades da vida, é tarefa que compete ao governo, a nós, isto sim, compete a instrução de um planejamento familiar consciente, sem os artefatos das técnicas que prejudicam, e de uma maneira insidiosa, ao organismo feminino, a nós compete e isto sim, aliviar, consolar e curar; a nós compete, isto sim, um pré-natal bem orientado e uma puericultura e Pediatria bem feitas.
Dizia o mestre: "O problema de assistência à mulher Mãe, dista muito, infelizmente, da realização. Não houve quem cuidasse de comemorar a grande data da independência edificando pelo menos uma boa maternidade".
Reivindiquemos para o Brasil a prioridade na tentativa de uma legislação protetora da mulher-mãe desvalida.
José Bonifácio, em 1822, escrevia representação à Assembleia Constituinte sobre a escravatura, assinalando no art. 18° do seu projeto um verdadeiro programa de puericultura, pois vedava os serviços violentos impostos à escrava prenhe, favorecia-lhe o repouso puerperal e instituía-lhe o trabalho por um ano sempre junto da cria. Analisando os diferentes países do mundo tais como: Alemanha, Suíça, Áustria, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Portugal, Espanha, França, Japão, Grécia, Itália, Estados Unidos, etc., ele dizia: - Concluiu-se por conseguinte que, apesar da diversidade das legislações todo mundo civilizado admite que é dever do Estado proteger e socorrer a maternidade.
No Brasil, emoldurado de maravilhas e deserto de ideais, sofrendo o confronto penoso entre a sua magnificência e a sua ignorância, a sua opulência e o seu tédio, a sua riqueza e a sua melancolia, a sua fartura as suas doenças, já é tempo de implantar, como obrigação impreterível dos governos, o cuidado pela formação de seus homens.
É urgente pugnar por uma legislação produtiva. A lei terá de levar a obrigatoriedade de suas determinações à todos os recantos do país, que, para este como para muitos outros efeitos, não pode reconhecer melindres regionais das unidades federativas estremecidas no orgulho secundário de unia autonomia desagradante. Diz ele: - Na Câmara francesa, Brusse, em 1891, exclamava: - "Quando votamos uma lei social cumpre indagar qual o nosso dever e qual o nosso direito sobre os envolvidos por essa lei; nosso direito é tomar todas as medidas, para conservar a raça; nosso dever é dar o necessário àquelas que se impõem os maiores sacrifícios ajudando-nos nesta obra nacional".
Remeto este trecho de pensamento patriótico aos legisladores de minha terra e recordo, para curá-lo do fetichismo constitucional a verdade do - Quid leges sini moribus - que no discurso de clausura no Congresso de Natalidade de Nancy, em 1919 o presidente Deschanel traduziu eloquentemente: A ação das leis seria ineficaz se não fosse secundada pelos costumes; é de uma obra moral que se trata, é a higiene dos espíritos que cumpre melhorar, é a esterilidade da alma vencer, é o mal de opinião, é uma crise de vontade que deve ser curada".
E traçou com a sua sabedoria as linhas gerais de um serviço pré-natal eficiente, que fosse entregue a uma direção especial: - a) o censo, direto de preferência, ela notificação compulsória da gravidez, medida de todo alcance e de toda razão, em que pese a crítica sentimental dos indecisos, mal substituído pelo censo indireto a custa da verificação consequente ao serviço das visitadoras; - b) a inscrição das grávidas, postulantes do amparo do estado, na caderneta de maternidade indicativa das leis que as protegem, dos princípios de higiene que lhes são necessários, dos conselhos de ordem profilática e terapêutica, da súmula obstétrica pessoal; - c) a investigação sistemática pelas visitadoras, a um tempo elementos de propaganda, fatores de benefícios e veículos de instrução; - d) a assistência hospitalar, distribuída por três institutos por de maternidade, urbano, suburbano e rural, com auxílio das guardas - as de abrigo, podendo recolher pequeno número de mulheres em parturição natural, as de socorro atendendo às solicitações, prestando os serviços imediatos e de urgência, providenciando a renovação para as maternidades; - e) assistência domiciliar, na hipótese do parto natural e do domicílio compatível, fornecidos os recursos necessários para o momento; - f) Os dispensários, instalados nas maternidades e nas guardas, para onde são levadas as mulheres pela intervenção suasória das visitadoras a fim de serem verificadas, em exames repetidos as suas condições de estado geral e local, a sua situação econômica tudo fazendo para que a gestante possa, no domicílio, seguir os princípios de higiene e da dietética - g) os refúgios onde descansem, no último mês da gestação, as mulheres desabrigadas de teto adequado e desprovidas de nutrição própria; - h) os ninhos, recolhendo as crianças, momentaneamente órfãs dos cuidados maternos pela internação das mães; - i) o ensino técnico preparando o profissional, médico, parteira ou enfermeira, podendo instruir aqui, no mister de enfermeiras especializadas as mulheres vindas de diversos pontos do país, e para lá volvendo, ao cabo da aprendizagem, para praticarem e disseminarem os preceitos da puericultura; - j) a fiscalização e o auxílio às associações privadas de assistência, mutualidade, conforto moral previdência e educação. Quando isto se fizer, o exemplo despertará em toda a parte o desejo da imitação.
Está para haver uma instituição útil que não tenha reproduções.
Como, por exemplo - em todo o Brasil não há pequena cidade que não tenha a sua Santa Casa em homenagem a ideia abençoada do missionário.
Há, além do benefício e da filantropia, a ação moralizadora destas obras de proteção às mulheres grávida esteio principal das mães solteiras, tantas vezes forçadas ao crime para fugir à desonra e ao juízo deprimente. Ela previne a frase de Mme. Latour du Pin, infanticídios pelo amor materno; acolhe piedosamente as mães involuntárias, perseguidas pela opinião pública, pletórica de preconceitos, farisaica e egoísta, severa e feroz, indiferente e cruel. Algumas páginas do livro de Margarith - Le Compagnon - descrevem um abrigo, de mães solteiras, recatado e limpo, tranquilo e florido conseguindo fazer surgir sob a crosta do vício e da miséria a brancura da alma, redimida pelo materno, que a generosidade desperta, quando honra e festeja a função procriadora, dispondo em torno á berços, quaisquer que sejam, a efetividade das leis e a aquiescência dos costumes.
E esta ideia tem por mim sido sustentada de há muitos anos, tendo eu apresentado no XV Congresso Fluminense um trabalho em que demonstro a gravidade do problema. E como ele eu lhes digo: - não posso admitir de outra forma, a defesa da procriação resumida no postulado que estende a compaixão, oferece o carinho e tributa a sabedoria; as mães sofrendo de abandono e de miséria, e que para elas reclama com energia, com perseverança, com ímpeto e mesmo invectiva, o amparo eficaz, imediato e premente, da nação, que se levanta e se glorifica como a Grécia fecunda que sepultava com honras de heróis, levados nos escudos dos guerreiros, as mulheres mortas de maternidade ou como a Roma onipotente, que circundava de rosas a casa onde vagia pela primeira vez o rebento humano de seu solo. Tenho fé nos destinos de nosso país e acredito na firmeza de muitos de seus homens.
VI - FERNANDO E AS OBRAS MAIS IMPORTANTES POR ELE DEIXADAS
01. Palavras à juventude;
02. Cartilha da Probidade
03. A Educação e a Democracia;
04. No Jardim da Infância. A Vocação Profissional
05. Discurso no Banquete oferecido ao Senador Alfredo Ellis;
06. Discurso na Sessão Fúnebre em homenagem ao Prof. Diógenes Sampaio.
07. Discurso na Academia Nacional de Medicina em recepção ao Prof. Octávio de Souza;
08. Discurso na Academia Nacional ao Prof. Rocha Lima;
09. Discurso na Academia Nacional de Medicina sobre: "Aborto Criminoso";
10. Discurso na Academia Nacional de Medicina em recepção ao Dr. Belizário Augusto
11. Discurso de Posse na Presidência da Sociedade de Medicina e Cirurgia;
12. Discurso de recepção aos Membros do II Congresso Americano da Criança;
13. Discurso da Pró-Matre em comemoração ao Centenário da Independência;
14. Alocução Presidencial na Sessão Solene de Abertura do Congresso dos Práticos;
15. Discurso de Posse na Cadeira Clínica Obstétrica na Faculdade Nacional de Medicina.
16. Discurso na Colação de Grau dos Doutorandos cl Faculdade Nacional de Medicina, turma de 1922;
17. Discurso sobre Rui Barbosa, proferido na Sessão Solene do Univ - Rio de Janeiro;
18. Discurso sobre a nossa raça proferido na Sociedade de Medicina e Cirurgia - Campos;
19. Conferência sobre Organização do Serviço Plenário pronunciado no X Congresso Brasileiro de Higiene;
20. Discurso na inauguração da Faculdade de Medicina "Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho", em São Paulo;
21. Discurso na inauguração do Monumento ao. Cristo Redentor, no Corcovado;
22. Discurso na inauguração da Estátua aos Heróis da4, Laguna e Dourados, erguido na Praia Vermelha;
23. Discurso proferido na Solenidade Comemorativa ao Centenário do Colégio Pedro II;
24. Discurso na Sessão Solene do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por ocasião do Concílio Plenário Nacional, em homenagem ao Eminentíssimo Cardeal Legado e aos Bispos Conciliares, que do mesmo participaram em 1935;
25. Discurso na Academia Brasileira, saudando Ramiz Galvão;
26. Discurso na Academia Brasileira, saudando a João Neves da Fontoura;
27. Numerosos discursos pronunciados na Constituinte;
28. Publicou vários artigos e livros sobre a sua especialidade e destes, por um motivo todo especial e da minha admiração - Síntese Obstétrica - em que ele conseguiu em poucas linhas o diagnóstico obstétrico em cinco itens: a) o Diagnóstico da Gestação; b) o Diagnóstico do Parto; c) o Diagnóstico do Delivramento; d) o Diagnóstico do Puerpério; e) o Diagnóstico do Recém-Nascido.
Neste livro, afirma o Mestre: "Caminhamos para a simplificação. A complexidade é um erro. O problema do Parto está resolvido; ou ele é natural e transpélvico, ou artificial extrapélvico.
O artifício comparado com a natureza é sempre uma imitação: proposição categórica, mas verdadeira em sua aplicação clínica. Precocemente tomamos este rumo. Faz 30 anos que profetizei: - parto natural ou cesariana, e quase que me apedrejaram.
O parto natural simultaneamente, se decompõe na especialidade da função e se recompõe na solidariedade do fenômeno: - cada elemento é fator próprio e colaborador comum. Nunca, por mais perfeito que seja o artifício consegue este complexo fisiológico, porque ele tem somente um fim: - ou atua sobre o útero, ou sobre o feto ou sobre a pélvis. Esta unilateralidade funcional traz o predomínio do fator em vista: - ou o predomínio ou a degradação porque o artifício decisivo quebra justamente a solidariedade consecutiva na colaboração comum, O ocitoxico só atua sobre o útero. A força, a versão e o basiotribo sobre o feto; - as pelvectomias sobre a pélvis. Nenhuma operação, reúne os elementos separados. Contudo, não só a anormalidade demonstra a colaboração solidária, como a própria distocia a realça, pois nunca, ainda que única desde o princípio, se evita a dificuldade das distocias combinadas que não são outra coisa que a solidariedade na desarmonia.
É estranha e adversa, pois, no problema da distocia, a prática operatória transpélvica, cuja representação é sempre um mau recurso forçado. A arte não alcança os aspectos da pélvis, só a natureza; fora dela para cima ou para baixo, o artifício: - O artifício do caminho novo extrapélvico abdominal artifício do caminho próprio, extrapélvico pericial. Chega de tanta imaginação na terapêutica intrapélvica"
O caminho percorrido pela especialidade continua desviado. A solução dos partos complicados absorvia aos antigos cultores da arte. Parteiro era o manejador dos instrumentos e o praticante da intervenção. Só agora a especialidade se dirige para sua verdadeira finalidade; só agora é racional, porque começa a considerar seus problemas e suas dificuldades iniciais; só agora, dentro da lógica, ela estuda a gravidez, princípio de todos os fenômenos
A obstetrícia foi uma prática empírica, querendo resolver uma questão cujos fundamentos eram desconhecidos. Por isso foi rotineira, entregando-se a operatória irregular e quase inconsciente das extrações,
Hoje o obstetra é fisiológico.
A medida que se continua com boa orientação, a prática obstétrica tende a desaparecer. A função parturiente será absolutamente normal, e fora, sem dúvida, das anomalias constitucionais e mórficas, de que as gerações bem cuidadas se livrarão, fora dos casos aberrantes e provisórios que a biotipologia eliminará, não se conhecerão mais as distocias e os acidentes.
O parto será uma função como as outras dentro do seu tempo e do seu silêncio. Ritmo e insensibilidade.
A obstetrícia não deve ser já operatória, só por que o queira ser, se assim for, será apenas insignificante. Ela deve ser acima de tudo fisiológica.
A obstetrícia é uma arte humana e, se já entrou na veterinária, foi através dos animais de preço e de estimação; contagiados pela convivência dessa desordem biológica que é o mundo moderno.
Como deveria ficar triste hoje, o nosso mestre, quando o alargamento das indicações operatórias deixou de seguir as normas do fisiológico