Almir Rodrigues Madeira




Almir Rodrigues Madeira

Especialidade:

Acadêmico Patrono

Cadeira: 44

Patrono: destinado a Seção de Medicina Cirúrgica


Mini currículo:

Nascido em Niterói em 20 de maio de 1884, sendo seus pais o Dr. Marcos Rodrigues Madeira, médico e deputado à Assembleia Provincial do Estado do Rio de Janeiro, e Da. Elvira Barbosa Madeira; fez os estudos de humanidade no Seminário do Crato (Ceará) de 1895 a 1897 e no Liceu de Fortaleza, de 1900 a 1902. Regressou após alguns anos a Niterói, matriculou-se em 1903 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por onde se formou em 1910. Casou-se com Da. América Madeira, tendo o casal 3 filhos: Yeda, Taís e o Prof. Marcos Almir Madeira. Faleceu nesta cidade aos 88 anos de idade, no dia 07 de outubro de 1972.

Cumprindo uma das suas finalidades estatutárias, presta a nossa Academia a sua homenagem à memória do nosso saudoso Patrono, trazendo-o, através da sua recordação, à nossa presença, vivo no afeto e na saudade. E quando isso é necessário, para maior brilho e realce da homenagem, falecem ao Orador o mérito e o vigor indispensável à realização da tarefa, embora lhe sobrem o empenho, a sinceridade e o desejo de cumpri-la.

Consideremos, pois, alguns aspectos da sua personalidade, como criatura humana e bem assim os dados biográficos mais marcantes da sua carreira profissional tanto na vida pública como na particular.

A trajetória da vida de Almir Madeira, desde os bancos acadêmicos até o coroamento da sua carreira profissional, é um traço brilhante de esforço, de dedicação, de feliz inspiração e, sobretudo, de ante visão dos problemas médico-sociais que até hoje nos afligem e nos preocupam.

Almir Madeira foi, antes de tudo, um pioneiro, desbravando um terreno ainda inexplorável e abrindo, às portas do futuro, as clareiras que iriam mais tarde iluminar a caminhada benfazeja que haveria de vir, na semeadura do bem e na riqueza da colheita.

E não só no Estado do Rio, como no Brasil, foi um precursor, levantando problemas adormecidos, máxime no campo da assistência médico-social, tendo por objetivo principal a nossa infância desprotegida. Neste terreno foi insuperável a sua obra médico-social, tomando iniciativas pioneiras, vencendo obstáculos, rompendo preconceitos, lutando e vencendo sempre, pela dedicação e pelo exemplo.

Já em 1916, poucos anos após a sua formatura, enviava para o 1º Congresso Americano da Criança, em Buenos Aires, o seu trabalho sobre a "Proteção à Infância de Niterói". Em 1923, no 1º Congresso Pan-Americano da Crianças, realizado no Rio de Janeiro, propunha a indicação para que o dia 12 de outubro, data do descobrimento da América, fosse destinado a comemoração do Dia da Criança, hoje consagrado definitivamente.

Em 1933, na Conferência Nacional de Proteção à Infância, relatava o Tema Oficial - a mortalidade Infantil em Niterói. Em 1947 publica em Revista especializada, ao que sabemos, o mais completo esboço histórico da evolução e aspectos da assistência médico-social da criança no Brasil. E por aí afora, dezenas de trabalhos científicos especializados sobre a criança são a fonte permanente da sua atividade profissional, rica e multiforme.

Mas não se limitou apenas a publicações científicas e, sim enveredou pelo terreno das realizações práticas, executando um conjunto de iniciativas que antes a sua condição de realizador e pioneiro.

Assim, em Niterói organizou o primeiro consultório de higiene infantil, o primeiro lactário (gota de leite) para crianças pobres, a primeira colônia de férias para crianças, o teste tuberculínico para controle da tuberculosa infantil e a seguir o emprego, pela terceira vez no Brasil, do BCG oral na premunição da tuberculose, em colaboração com Arlindo de Assis e cooperação de Aureliano Barcelos.

Mas a sua obra máxima, aquela que coroou as suas realizações materiais e constituiu, por muitos anos, a menina de seus olhos, indubitavelmente a fundação em 1914 do Instituto de Proteção e Assistência à Infância de Niterói (Ipain), a primeira instituição de Proteção e Assistência à infância de Niterói e que, por mais de 50 anos, serviu não só a classe pobre, como ao próprio ensino da nossa Faculdade e a formação especializada dos primeiros pediatras aqui e alhures residentes. Lá, milhares de crianças pobres, condenadas à morte inevitável por falta de recursos, encontraram a sua salvação nas mãos dos pediatras que, dedicada, assídua e gratuitamente, lhes deram o carinho e o amparo da sua assistência permanente, sob a supervisão superior de Almir Madeira, tendo por companheira e anjo titular daquela casa a figura inesquecível da sua admirável esposa - D. América Madeira. 

É de lamentar, todavia que obra de tão notável benemerência a serviços prestados à população local tenha fracassado, por morte dos seus fundadores, as mãos dos órgãos oficiais da nossa cidade. 

Mais de 40 anos de uma convivência e de uma colaboração ininterrupta e leal ligaram-nos a Almir Madeira, numa amizade indestrutível e no sentimento de sua perda irreparável. 

Almir Madeira ocupou vários cargos públicos e funções técnicas ao longo da sua carreira profissional, tendo exercido a todos com competência, dedicação e honestidade. 

Por seu espírito criador e pioneiro foi um dos fundadores da nossa Faculdade de Medicina e o seu primeiro professor da Cadeira de Puericultura, uma das primeiras a ser criada no Brasil. E foi ainda o Professor da citada cadeira na Escola de Serviços Sociais do Estado, bem como da cadeira de Higiene da Faculdade de Direito local. Foi Diretor-médico por muitos anos do Preventório D. Amélia, em Paquetá. 

Diretor da Penitenciária desta Cidade, ao deixa-la recebeu um voto de louvor do Conselho da mesma, pela sua direção honesta e eficiente. Foi presidente por dois períodos consecutivos, da Associação Médica Fluminense. 

Foi membro titular da Academia Nacional de Medicina e da Academia Fluminense de Letras. Foi Diretor-médico da Caixa dos Funcionários da Leopoldina. 

Terminava a Grande Guerra na Europa e com ela a missão principal da L.B.A., tal convocado pela presidência estadual da mesma para assessora-la, iniciando logo a obra da sua transformação em órgão de assistência à maternidade e à infância, já estabelecida pela direção superior da mesma. 

Imprimiu-lhe um caráter técnico especializado, ampliando e criando vários Postos de Puericultura nesta cidade, os quais constituem ainda hoje o núcleo principal das suas atividades assistenciais, com a assistência médico-higiênica e alimentar à criança pobre e às gestantes, obteve um magnífico resultado na baixa das mortalidades materna e infantil, não só dentro da L.B.A., como na própria cidade, segundo estatística feita na época. 

Foi um entusiasta na defesa do aleitamento natural ao lactante, mas para provar mais uma vez que os de casa não fez milagres, apesar de todo o seu empenho e doutrinação, no nascimento de seus netos não houve outro jeito que recorrer a alimentação artificial, pois a hipogaláctia materna mostrou-se rebelde e invencível. 

Vejamos agora outras faces da personalidade de Almir Madeira, temperamento esfuziante e jovial, espírito aberto e idealista. 

Era um cidadão inatacável, independente, patriota, consciente de seus atos e de suas atitudes, considerando as coisas do país no sentido patriótico e elevado. 

Foi um apaixonado pelas belas artes, sobretudo a música, aquela que atravessa os séculos e entra na eternidade. Muitas vezes o encontramos em casa, á na sua fase de incapacidade física, ouvindo no seu rádio os trechos mais belos e clássicos, a reger com o membro são os acordos melodiosos das grandes orquestras. Tinha, contudo, uma certa aversão a novelas e vale referir o episódio: certa vez, ao passar pela borboleta das barcas, ouviu uma das funcionárias cantarolando um trecho de música clássica; encantando, felicita-se pelo seu bom gosto, mas que decepção quando ela lhe disse que era apenas a música da Novela que ela estava acompanhando! 

Não era um literato, na recepção da palavra, pois não publicou obras literárias nem fez literatura por si mesma, mas sabia dizer e escrever com correção de linguagem, elegância e apuro na forma, como se pode sentir neste trecho antológico "Foi dest´arte, entre as urzes más, ó nobres companheiros, ó abençoadas semeadores do bem, que eu convosco lancei a semente fecunda, e nem mesmo assim, do seio desta terra que se dizia sáfara e inculta, eis que ela germina e cresce, embora lentamente, como grandes árvores seculares". 

Como colega foi um exemplo de comportamento profissional, leal, honesto no exercício da profissão, solidário à classe e aos companheiros, colaborando e estimulando as boas iniciativas sempre à frente delas. 

Amigo, era inexcedível na sua dedicação e empenho de servir e amparar, lutando como se fora em causa própria na defesa de qualquer direito a preservar ou injustiça a corrigir. 

Como cidadão, era intransigente contra os erros da nossa vida pública, inspirado tão somente nos seus sentimentos patrióticos.

Professor, por vezes irônico e mordas, durante muitos anos transmitiu às novas gerações de discípulos as noções mais úteis e indispensáveis de puericultura, estimulando o carinho e a devoção à causa da criança, sobretudo no seu aspecto médico-social. 

Mestre cordial e tolerante, mantinha com seus alunos um relacionamento amistoso e confiante, baseado no respeito e na estima. 

A alvura dos seus cabelos contrastava com a jovialidade do seu exuberante e vivas, irradiando em tomo de si, humor e otimismo sadio. 

Esposo exemplar, pai amantíssimo, dentro de um lar abençoado, sentiu a rudeza dos golpes que feriram o seu coração transpassado, resistindo com estoicismo e resignação às agruras da sorte. E por ironia do destino, no último quartel da sua longa vida, pagou a consciência amargurada da sua incapacidade física, toda a soma de benefícios que espalhou sobre a terra. 

Mas deixou para nós outros o grande exemplo do amor ao próximo, no culto fervoroso à causa da criança, como lidima que foi da nossa classe e da humanidade.

 

Biografia escrita pelo Acadêmico, Cadeira nº 44, Octavio Lemgruber

 


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