Heitor Pereira Carrilho




Heitor Pereira Carrilho

Especialidade:

Acadêmico Patrono

Cadeira: 22

Patrono:


Mini currículo:

Com reverência prestamos hoje o culto de nossa homenagem ao eminente clínico, perito, legislador, administrador e doutrinador, Professor Heitor Carrilho.

Pela sua brilhante inteligência, em quaisquer dos múltiplos setores de suas atividades, houve-se com inexcedível destaque. Por certo, não é possível traçar uma linha rígida de sua atuação entre eles.

O professor de palavra fluente e espontânea, expositor primoroso e agradável, que sabia prender auditórios, que sabia ensinar sem fatigar, que sabia transmitir de maneira a motivar e a inspirar, Com extraordinária clareza e objetividade que emprestava às aulas, tornava mais difíceis, complicados ou controvertidos da patologia mental, devido ao seu poder de síntese e capacidade didática. Sabia formular observações, ressaltando os achados médico-sociais de outros autores e reforça-los com seus próprios dados.

O clínico, com a preocupação constante do acerto, da exatidão, o perfeito sentido da observação, o escrúpulo, o vigor e minúcia no exame dos doentes ou das questões médicas que lhe viessem às mãos e a dedicação aos enfermos.

O perito, em que no desempenho de suas funções de psiquiatra forense, constituiu-se, sem dúvida no maior representante da psicopatologia criminal em nosso país. Foi o sistematizador da especialidade; seus laudos, pareceres e trabalhos teóricos, na expressão de Adauto Botelho - "Verdade e Beleza", revelam sua ampla cultura, poder de observação, segurança na linguagem e exato conhecimento dos quadros de patologia mental.

O Juiz, no sentido transcendente, atuando como Membro do Conselho Penitenciário do então Distrito Federal, em face de sua notória competência em questões penitenciárias e psicológico-jurídicas, prolongamento de suas atividade psiquiátrico-penais. Alguns de seus magistrais pareceres, apreciando pedidos de livramento condicional, estão incluídos entre seus melhores trabalhos.

Do administrador, aí está o Manicômio Judiciário do Rio de janeiro que ele vinculou à melhor projeção internacional de nossa Pátria, tendo ainda dirigido o Serviço Nacional de Doenças Mentais, hoje Divisão Nacional de Saúde Mental, do Ministério da Saúde.

O doutrinador, ouvido com respeito nos congressos, seguido como traço de união entre a Medicina e o Direito, orientador, organizador e estimulador da revista "ARQUIVOS DO MANICÔMIO JUDICIÁRIO DO RIO DE JANEIRO", Presidente-Geral da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal.

Nasceu em 21 de março de 1890, em Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Filho do médico José Calistrato Carrilho e de sua esposa Dona Maria Emília Pereira Carrilho. Fez curso primário no Instituo Aires Gama e no colégio Diocesano, o primeiro na cidade do Recife e o segundo no Estado da Paraíba. Fez o curso secundário no Ateneu Norte Rio Grandense, em Natal, quase todo com aprovações distintas.

Esgotados os anos de estudos elementares e humanísticos, veio para o Rio de Janeiro em 1906, matriculando-se na Faculdade de medicina da hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. No 4º ano médico, em 1909, foi admitido por Juliano Moreira como interno extranumerário do antigo Hospital de Alienados, na Praia Vermelha. No 5º ano, em 1910, foi nomeado interno efetivo, após concurso em que foi classificado em 1º lugar.

Juliano Moreira dedicava-lhe especial acolhimento; depois de formado em Medicina, em 1911, nomeou-o assistente médico e, em seguida alienista do referido Hospital. - Alienista interno (1913-1917), Alienista efetivo (1918) e médico encarregado do Serviço de Alienados Delinquente, da Assistência a Alienados do Rio de Janeiro - Seção Lombroso (1919).

Versou a sua tese de doutoramento sobre "Estudo Clínico das Psicoses Pré-senis", aprovada com distinção.

Assistente da Clínica Neurológica (Cátedra do Prof. Austregésilo) nos primeiros anos após a sua formatura, em 1915 conquistou por concurso a docência da Clínica Psiquiátrica da atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde ministrou cursos equiparados até 1937.

A sua tese de livre docência, versou sobre "Estudo Clínico das Parafrenias", sendo aprovada com distinção.

Durante 20 anos, regeu como catedrático por concurso, a Cadeira de Clínica Psiquiátrica da Universidade Federal Fluminense, na qual foi homenageado em todas as turmas e, por duas vezes, paraninfo.

Exerceu o cargo de professor de medicina Legal da Faculdade de Ciências Médicas, onde também, foi sempre homenageado nos quadros de formatura.

Eleito Membro Titular da Academia Nacional de Medicina em 14 de novembro de 1929, ocupou os cargos de Orador e 2º Vice-Presidente; exerceu também, por mais de uma vez, a presidência da Sociedade brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina-Legal.

Representou o Brasil no 1º Congresso Latino-Americano de Criminologia, reunido em Buenos Aires, em 1938 e no 2º Congresso Mundial de Criminologia, reunido em 1949, em Paris.

Fez parte das Subcomissões Legislativas, em 1939-1939, tendo elaborado na 14ª - (Regime Penitenciário) - toda a legislação sobre a parte médica da Medicina nas prisões. Foi membro do Conselho Penitenciário do então Distrito Federal, tendo sucedido a Juliano Moreira.

Foram seus mestres nos estudos neuropsiquiátricos, os Professores Juliano Moreira e A. Austregésilo, aos quais se ligou pela frequência nos respectivos serviços clínicos, e Professor Ulisses Viana, de quem foi interno no Hospital de Alienados.

Foi o fundador do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro (1921), que organizou por indicação de Juliano Moreira, o qual já lhe confiara a direção da "Seção Lombroso" do antigo Hospício, a qual precedeu a fundação.

Aliado à sua função assistencial transformou aquele frenocômio num Centro de estudos e de ensino.

Foi membro de quase todas as Sociedades Médicas do País e de algumas da República Argentina, onde recebeu especiais honrarias.

Fundou em 1930 os "Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro", publicação que teve grande sucesso em nosso meio. Fez parte de inúmeras bancas examinadoras de Psiquiatria em Faculdade de Medicina do País, no DASP e no então Serviço Nacional de Doenças Mentais.

Publicou cerda de 40 trabalhos sobre psiquiatria clínica e forense, quase todos nos Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro.

Casou-se em 1918 com Dna. Virgínia Riberio, filha do Dr. Olinto Ribeiro, de Belo Horizonte.

Deixou uma filha, que é casada com o Sr. Elvo Santoro, ex-Diretor Geral do Tribunal Regional Eleitoral do antigo Estado da Guanabara.

Deixou dois netos - Maria Elizabeth e Ricardo Carrilho Santoro.

Faleceu em 20 de maio de 1954, tendo feito muito mais que legar-nos conhecimentos escritos.

Reflexo da relevância de sua vida social, seus ensinamentos e seus serviços, é a perpetuação histórica de seu nome no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho, Rio de Janeiro, Capital; Hospital Estadual Heitor Carrilho, Niterói; Clínica Pedagógica Professor Heitor Carrilho, Natal, Rio Grande do Norte; Patrono da Cadeira nº 53 da Academia Nacional de Medicina e da Cadeira nº 22 da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Academia Fluminense de Medicina).

 

Dotado de forte inclinação e talento para ação, converte-se no amigo e conselheiro dos médicos, internos e estudantes, constituindo-se em um magnífico exemplo de trabalho profissional, técnico-científico e educacional para a classe médica e a sociedade brasileira.


ALGUNS TRABALHOS PUBLICADOS


01. Estudo clínico das psicoses pré-senais. Tese de Doutoramento (1911).

02. Estudo Clínico das parafrenias. Tese de Livre-Docência (1915).

03. Estudo Clínico das epilepsias emotivas (Trabalho apresentado para concorrer a uma vaga na Academia Nacional de Medicina, em Novembro de 1929, publicado nos Arquivos do Manicômio Judiciário número 1 (1º semestre de 1930).

04. Aspectos médico-legais das parafrenias. Arq. Neur. Psiquiatria da Medicina Legal, 1919, 1º trimestre.

05. A respeito dos intervalos lúcidos da psicose maníaco-depressiva. Arq. de Neurologia, Psiquiatria e Med-Legal, 1921, 1º trimestre.

06. Aspectos médico-legais das esquizofrenias. Arq. do Manic. Judiciário, nº 1.1930, 1º trimestre.

07. A colaboração dos psiquiatras nas questões penais. Arq. do Manic. Judiciário, 1930, 2º semestre.

08. As diretrizes atuais na medicina das prisões. Arq. do Manic. Judiciário, 1931.

09. Objetivos da perícia psiquiátrica. Arq. do Manic. Judiciário, 1932.

10. Psicopatologia da paixão amorosa e seu aspecto médico-legal. Arq. do Manic. Judiciário, 1933.

11. Assistência aos psicopatas delinquentes. Instruções, conselhos e advertências aos enfermeiros dos manicômios judiciários. Arq. do Manic. Judiciário, 1932.

12. As 4 reações de Nonne em psiquiatria forense. Arq. de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal, 1920, 2º Semestre.

13. Neuro-sífilis e delinquência. Cultura médica, 1939.

14. Da temibilidade dos epilépticos. Arq. do manic. Judiciário, 1940.

15. Considerações sobre a temibilidade dos epilépticos. Cultura Médica, 1944.

16. Índices Psico-biológicos de regeneração. Arq. do Manic. Judiciário, 1936.

17. Os criminosos passionais e o "sursis". Arq. do Manic. Judiciário, 1936.

18. O livramento condicional em face dos antecedentes psicopáticos dos sentenciados. Arq. do Manic. Judiciário, 1937.

19. Psicogênese e determinação pericial da periculosidade. Arq. Neuro-Psiquiátrico de S. Paulo, 1948.

20. As personalidades psicopáticas em face da legislação pena brasileira. Neurobiologia, Recife, 1951.

21. Distúrbios psíquicos na hipertensão arterial. "Symposium" na Academia nacional de Medicina - Arq. do Manic. Judiciário, 1951.

22. Oração de Paraninfo. (Doutorandos de 1938), na Faculdade Fluminense de Medicina. Arq. do Manic. Judiciário, 1938.

23. Evaristo de Morais e s Psiquiatria Criminal. (disc. na Soc. Brasileira de Criminologia. Arq. do Manic. Judiciário, 1939).

24. Juliano Moreira (Discurso pronunciado no Conselho Penitenciário do Rio de Janeiro) Arq. do Manic. Judiciário - 1941.

25. Oração de Paraninfo, aos doutorados de 1949. Tipografia do Jornal do comércio, 1950.

26. Em torno de um caso notável de furor epiléptico. Considerações clínicas, médico-legais e anatomopatológicas. Arquivo de neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal. 1919.

27. Discurso da posse na Academia Nacional de Medicina. Boletim da referida Academia.


Inúmeros outros trabalhos psiquiátrico-legais, inclusive laudos e pareceres apresentados a Varas Criminais e Cíveis do Rio de Janeiro, estão publicados nos Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro (hoje Heitor Carrilho), como nos Arquivos de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal, arquivos de Higiene Mental, Arquivos Penitenciários do Brasil, Revista do Centro  Psiquiátrico Nacinal, o Hospital, Cultural Médica, etc.


Biografia escrita pelo Acadêmico Heitor dos Santos Braga.


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